Um ser humano anda por muitas ruas na sua caminhada na vida. Uma determinada rua pode ser percorrida inúmeras vezes sem nada acrescentar nos campos do amor e do conhecimento. Surge então uma questão: para que serve esta rua? Não sei responder esta pergunta. Mesmo assim, arrisco-me a dizer que talvez elas nos ensinem uma lição preciosa, pois estas ruas levam um ser humano a perder precioso tempo da sua existência sem nada de útil produzir, por não saber escolher a rua que caminha. Não se deve perder tempo caminhando por este tipo de rua, a não ser para construir escolas e restaurantes, enriquecendo a rua.
Existem ruas que são afetadas pelas tempestades e até por chuvas ligeiras e fracas. Chuvas normais tornam algumas ruas intransitáveis, causando transtornos às pessoas que nelas trafegam. Por não oferecerem segurança a quem nelas trafega, este tipo de rua apenas recebe o tráfego de quem não a conhece.
As ruas sem saída são utilizadas apenas pelos que moram ali e pelas pessoas que vão visitá-los. Algumas vezes, podem ser utilizadas pelos que não as conhecem e pensam que trafegando por elas atingirão os lugares que buscam, mas logo se dão conta que é uma rua sem saída. Neste caso, só lhes resta dar meia volta e buscar outras ruas para chegar onde desejam.
Existem ruas barulhentas, recebem tráfego intenso, de dia e de noite, não oferecem descanso nunca. Neste tipo de rua não se escuta o canto dos pássaros, o farfalhar das árvores, o barulho da chuva a cair, enfim, não se escuta a natureza, apenas os ruídos artificiais criados pelos seres humanos. Não gosto de ruas assim, elas deixam o espírito atordoado, não permitem ver as coisas interiores, prendem a atenção nos barulhos exteriores que nada produzem, apenas atordoam a alma. As ruas barulhentas existem nos grandes centros urbanos, seu habitat natural.
Existem ruas calmas, repletas de jardins e pomares, nelas os pássaros cantam e fazem seus ninhos, escutamos o vento a balançar os galhos das árvores, ouvimos o som da chuva a cair e sentimos o cheiro da terra molhada pelos primeiros pingos que atingem o solo. Estas ruas possibilitam o vôo da alma por mundos ignotos, ativam o processo criativo. Existem poucas ruas assim, portanto, quando encontrar uma, construa nela a sua morada para a eternidade.
Maria Farinha, 21 de agosto de 2010.