Procurando alguma coisa?

Crônicas

Zebra II

Pedro e Maria vivem em uma cidade do interior. Há muito tempo que eles namoram e desejam casar, mas não encontram atividades remuneradas na pequenina cidade em que moram. Eles conversam sobre suas diminutas chances de conseguirem emprego na cidade em que nasceram, depois de longas trocas de idéias Pedro resolve viajar para a capital, ouvira falar que lá existem muitas oportunidades para uma pessoa que está disposta a trabalhar e disposição não lhe falta para realizar qualquer atividade. Após muitas promessas de regressar dentro de pouco tempo para casar e levá-la consigo para uma vida nova, Pedro parte para a capital, está cheio de esperança de encontrar emprego, enquanto Maria fica na pequenina cidade, chorando a dor da separação, depois de tantos anos de namoro.

A vida na capital não era exatamente como Pedro imaginara. Era certo que existiam muitas oportunidades, mas ele não tinha a qualificação profissional necessária para disputar estas vagas, para as quais existiam sempre muitos pretendentes, só lhe restaram atividades braçais cujas remunerações eram baixas. O aluguel de uma casa era caro, em bairros que ficavam distantes dos locais onde poderia conseguir emprego. Os poucos recursos propiciados pela solidariedade dos parentes e amigos acabam rapidamente. Ele aceita o emprego de servente em uma construção de um prédio em um bairro elegante, conseguido através de um conterrâneo.

Na primeira carta que escreveu para a namorada contou a sua decepção, pintou com tintas amargas o quadro da vida de um trabalhador não qualificado na cidade grande. Maria ficou preocupada com o tom azedo da carta, pediu para ele regressar, os dois tentariam trabalhar na agricultura para ganhar o pão de cada dia, arrendariam algum pedaço de terra com a ajuda dos parentes. Ele não aceitou voltar, isto equivaleria a admitir a sua falta de capacitação para trabalhar em atividades mais qualificadas. Esta seria a decisão mais acertada para a realização do casamento deles, mas o orgulho e a vaidade dele não permitiam voltar sem ter tido o sucesso tão prometido à namorada.

Com o passar do tempo as cartas de Pedro para Maria foram escasseando. Ela continuou a escrever duas ou três cartas todo mês, sempre pedindo o regresso dele, falando da saudade que tomava conta do seu coração. Na última carta que recebeu

dele teve a notícia de que a obra tinha terminado, que apesar de não ter sido o emprego que ele sonhara, tinha conseguido juntar algum dinheiro, que iria trabalhar para outra construtora, em uma cidade vizinha, quando tivesse o endereço escreveria para ela. Esta foi a última carta que ela recebeu de Pedro, apesar de não ter notícias dele há muitos anos, mantém viva a esperança de que ele voltará para casar com ela.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
Fortaleza, 17 de março de 2009.
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