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Crônicas

Tereza

O sorriso ilumina o rosto de Tereza, a sua mão acaricia a barriga, acaba de receber os exames com a notícia de sua gravidez, fruto do seu relacionamento com o homem que ama e é por ele amada. Ela caminha pela rua sem perceber o que se passa ao seu derredor, embalada pelo fato de trazer no seu útero o fruto do amor que avassala seu corpo e sua alma. Algumas pessoas ao verem o seu estado de felicidade estampado na face, falam com ela, mesmo sem a conhecerem, como a desejarem desfrutar também de tamanha felicidade, mas não são percebidas por Tereza, pois seu espírito caminha pelas nuvens, alheio ao que se passa na crosta terrestre.

Algumas mulheres ficam lindas no período da gravidez, irradiam luz e amor por todos os poros da pele, se transformam em anjos do céu com a missão de embelezar a vida na Terra. É verdade que algumas mulheres se tornam rabugentas durante a gravidez, mas essas são as exceções que confirma a regra que diz: toda regra tem exceção. A maioria das mulheres quando engravida se transforma em um hino de louvor à beleza e Tereza era uma dessas mulheres, ela ficou ainda mais linda, como se a beleza resolvesse fazer morada no seu corpo e na sua alma.

Tereza continua a caminhar alheia a tudo e a todos que cruzam o seu caminho, o céu lhe parece mais azul, o barulho da cidade não é percebido por ela, vai imaginando um jantar especial com o marido e depois de se amarem ela dará a notícia para ele. Ela pára em uma loja e compra um pijama curto e sensual para esta noite tão especial. Compra também velas para dar um clima romântico ao jantar e toma o caminho de casa. Continua alheia ao que se passa ao seu derredor, radiante de felicidade ela atravessa a rua sem olhar. Um carro a atinge e joga seu corpo longe, batendo a cabeça no meio-fio. Socorrida e transportada por uma ambulância ela falece poucas horas depois no hospital, sem retomar a consciência.

A vida tem mistérios insondáveis, deixo para os filósofos e os religiosos o árduo trabalho de explicar a morte de Teresa. Eu tenho certeza que ela entrou no céu e cativou os anjos com o seu sorriso encantador. No inferno não a aceitarão, pois o seu sorriso seria um bálsamo para os que lá sofrem. Caso seja permitido aos mortos visitarem os amigos que ficaram aqui na Terra, gostaria de por um breve momentoescutar a musicalidade do sorriso de Tereza, ter novamente a sensação de que convivo com os anjos.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 15 de agosto de 2006.

 

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