Procurando alguma coisa?

Crônicas

Tempo

A alma do ser humano se assemelha ao dia, às vezes amanhece cheia de alegria e energia, disposta a realizar mil atividades, disposta a enfrentar quaisquer dificuldades, nada a impede de realizar o que deseja. Tem dia que a alma amanhece fria e triste, não consegue criar, cantar e apreciar a natureza, nada atrai a sua atenção, nada deseja fazer. Tem dia que a alma não fica alegre, tampouco fica triste, não encontro uma palavra para classificar este estado, talvez morna, apenas sei que a convivência com pessoas neste estado é difícil.

Certo dia em que minha alma acordou alegre e cheio de energia, perguntei a mim mesmo: como as outras pessoas me vêem? Resolvi saber e perguntei a uma amiga que é conhecida por sua sinceridade: como você me vê? Ela olhou dentro dos meus olhos e respondeu: você é uma pessoa muito fechada, raramente sorri, seu rosto é uma máscara desprovida de emoções, seu peito está envolto em uma camada de gelo que congelou seu coração, você não tem emoções. Depois de algum tempo em silêncio ela acrescentou: busque ajuda para quebrar a indiferença que cobre a sua alma, viva as alegrias e tristezas de cada dia, ria e chore, deixe a sua alma se mostrar para as outras pessoas tal qual ela é. Confesso que foi um choque enorme escutar tais palavras, não tinha consciência de que as pessoas me viam assim, ou melhor, que eu era assim. Foi semelhante a me colocar pela primeira vez diante de um espelho e ver como sou, depois de passar muitos anos me imaginando de uma maneira diferente e sem ter ficado diante de um espelho.

Algumas almas vivem adormecidas, muitas vezes eu fico contrariado com o comportamento delas, depois me lembro dos anos que não fui frio nem quente, que um dia elas também vão rir e chorar. Olhando o passado vejo que muitas pessoas tentaram me fazer rir, somente agora entendo o esforço realizado por elas buscando me tornar um ser humano. Elas foram os anjos que começaram a desmanchar a indiferença da minha alma, naquela época não entendi suas colocações e evitava conviver com elas, hoje agradeço a Deus tais anjos terem cruzado meu caminho e suportado a irracionalidade da minha alma. Existe o tempo para dormir e o tempo para acordar.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 16 de maio de 2008.
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