Procurando alguma coisa?

Crônicas

Destinos

Uma senhora caminha por movimentada rua da cidade com ar de quem não quer nada, olha as vitrines de uma maneira displicente, contempla os objetos ali expostos sem demonstrar o menor desejo, seu rosto parece uma máscara fria e sem expressão. Depois de olhar algumas vitrines ela entra em uma loja e compra algumas roupas, foi um gesto maquinal, ela já tem mais roupas do que necessita, pode passar semanas sem repetir a mesma roupa, apesar de sair de casa diariamente. Desfruta a riqueza do marido, escolhido por ela em detrimento do homem que amava, mas não tinha dinheiro para dar o luxo almejado por ela. Entra em um centro comercial e compra algumas revistas. Segue adiante e senta-se à mesa de uma lanchonete, pede um suco de frutas, pega o telefone celular na bolsa e faz várias ligações, demorando bastante em algumas delas, ao mesmo tempo folheia as revistas que comprou. Transcorrido algum tempo uma amiga chega, ela paga a conta e as duas saem para almoçar em algum restaurante.

Outra senhora caminha pela mesma rua, atenta a tudo o que se passa ao seu derredor, ela dirige-se a cada pessoa que passa e estende as mãos pedindo uma ajuda para se alimentar. Seu único vestido está desgastado pelo uso e seus sapatos furados. O estomago a doer de fome não lhe permite olhar as ricas vitrines das lojas, está concentrada em conseguir o auxílio necessário para comer alguma coisa. Entra em algumas lojas tentando fazer um trabalho de limpeza que lhe renda alguns trocados para comprar comida, mas não consegue ter sucesso, seu aspecto de mendiga não ajuda, é rechaçada com firmeza, a sua presença afugentaria a fina clientela da loja. Depois de muito caminhar ela encontra uma alma caridosa que lhe paga um prato de comida, devorado com avidez, depois que ela se desdobrou em agradecimentos por aquele ato de humanidade. Após o almoço, com lágrimas nos olhos, ela orou e pediu a Deus bênçãos para aquela alma caridosa que saciou a sua fome.

Duas mulheres, dois destinos tão opostos, enquanto uma tem recursos para atender seus caprichos mais inverossímeis, a outra não tem dinheiro para se alimentar. A rica, apesar de não ter dificuldades financeiras, vive atormentada pelos problemas existenciais, é freqüentadora assídua dos divãs dos psicólogos, toma remédios para conseguir dormir. A pobre luta para conseguir o pão de cada dia, mas goza de uma saúde mental invejável, ao final de cada dia, ao se deitar debaixo de uma ponte com outros mendigos, ela ora e agradece a Deus por estar viva e com saúde, depois cobre o corpo com pedaços de papelão e de jornais velhos, dorme o sono tranqüilo daqueles que não maculam a consciência para conseguir vantagens de ordem material.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 13 de maio de 2008.
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