Procurando alguma coisa?

Crônicas

Arlete

Quando eu trabalhei com Arlete ela era uma morena bonita, tinha um corpo lindo e sensual, andar miúdo, rebolando o traseiro de maneira provocante, como somente a mulata carioca sabe fazê-lo. Na época em que a conheci ela tinha trinta anos de idade e eu vinte; ela era noiva sem data marcada para o casamento, já fazia um bom tempo. Trabalhamos juntos durante três anos, foi a minha primeira experiência de trabalho em uma empresa grande, na cidade do Rio de Janeiro. Apesar do seu compromisso de noivado ela costumava dar seus pulinhos por fora, sob a alegação de que tais aventuras sexuais ajudavam a sustentar a relação oficial, isto é, mantinha o seu noivado mais vivo e interessante, segundo as declarações dela. Até que ponto ela acreditava realmente em tal afirmativa eu não sei, mas ela mantinha sempre um relacionamento por fora do noivado, mudando constantemente de parceiro de tais aventuras, mas o noivado permanecia firme. Quando eu lhe indagava como os pulinhos por fora ajudavam o seu noivado ou de que modo tal processo acontecia, ela desconversava e saía com alguma tirada jocosa sobre o homem nordestino. Ela afirmava amar o noivo, mas sentia a necessidade de manter relacionamentos sexuais com outros homens, renovando sempre tais parceiros após determinado tempo, com a finalidade de evitar complicações, segundo suas próprias palavras.

Trabalhamos juntos durante três anos, até ela ser transferida para outro departamento da empresa, localizado em outro bairro. Ela me ensinou muitas coisas sobre a alma feminina, foi uma grande amiga durante estes três anos em que trabalhamos na mesma sala. Toda sexta-feira à noite os colegas de trabalho se reuniam em algum bar e ela era o centro das atenções, mas Arlete não gostava de ir para a cama com colega de trabalho, dizia ser uma complicação desnecessária. Ela sempre chamava cada um de nós de “meu querido”, de um modo carinhoso e sensual, fazendo com que cada um se sentisse especial, não sei por que razão, pois a todos ela chamava de “meu querido” e no mesmo tom de voz sensual. Mas cada um dos seus colegas de trabalho sentia aquele “meu querido” como propriedade exclusivamente sua, apesar de ser de uso geral. Certa vez eu fiquei a imaginar quantos homens pertencentes ao círculo de amizade de Arlete teriam o mesmo sentimento.

Faz quase quarenta anos que não tenho notícias de Arlete, mas até hoje as lembranças da sua passagem em minha vida estão gravadas na memória e no coração, registros vivos de uma mulher que me ensinou muitas coisas acerca do universo feminino.

Por onde andará Arlete?

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, julho de 2008.
                   0 Comentários 99 Views