Um passarinho “pousou” no ‘terraço’ e cantou por alguns instantes. Não sei se era um canto de alegria ou se protestava por estarmos derrubando suas árvores para construir nossas moradias. Qualquer que tenha sido a sua motivação, foi um canto belo, daqueles que deixa a alma a flutuar nas nuvens. Sem a menor cerimônia ele voa pelo terraço como se estivesse na sua casa e quisesse me expulsar dali, a fim de poder ficar à vontade e desfrutar do sol matinal. Eu me mexo na cadeira tentando vê-lo melhor, ele se assusta e parte célere em retirada, deixando-me sozinho, apesar dos meus apelos para que não se retirasse. Tentei explicar os meus movimentos, estava apenas tentando vê-lo melhor, mas ele não me escuta e vai embora.
Eu fiquei novamente sozinho a contemplar o amanhecer do dia e o despertar da cidade. Dentro de poucos instantes os barulhos das pessoas e das máquinas abafarão os cantos dos pássaros e dos insetos, ainda perceptível nas primeiras horas do dia que desperta. Dentro de poucos instantes o barulho das máquinas será mais forte que os sons produzidos pelos seres vivos. Os sons emitidos pelas coisas criadas pelo ser humano será mais forte que os sons emitidos pelas coisas naturais. Deste modo, nós que vivemos nas cidades vamos perdendo contato com a natureza, passamos a viver no mundo modificado pelo ser humano e deixamos de ver a natureza como nossa mãe. E o que é pior, nós agimos como se o nosso modo de fazer as coisas não afetasse a mãe natureza e tornasse a vida inviável no planeta Terra.
Durante o transcorrer do dia muitas coisas acontecerão, milhões de seres nascerão e outros milhões morrerão, poucos descobrirão o sentido do existir e muitos continuarão adormecidos para o objetivo da vida, ocorrerão encontros e desencontros, nalgumas áreas o sol lançará seus raios e noutras choverá, algumas pessoas encontrarão empregos e outras ficarão desempregadas, muitas coisas serão iniciadas e outras serão encerradas, muitos sonhos serão acalentados e muitas ilusões serão desfeitas, muitas alegrias e muitas tristezas serão vividas por bilhões de pessoas. A vida seguirá seu curso inexorável.
Mais um dia que se inicia nesta área da Terra, mais uma noite que se inicia em outras áreas. Para os que vivem na Terra haverá dia e noite, ocorrência regida pelo movimento em redor do Sol. Quem vive no espaço etéreo, libertou-se da escravidão do tempo, vive eternamente na Luz, não está sujeito à escuridão.
