Procurando alguma coisa?

Crônicas

Amanhecer II

Vejo o dia amanhecer, deixo o pensamento a vagar sem objetivo. Na região nordeste o tempo já dá os primeiros sinais de que a época de fazer mais calor se aproxima, enquanto nas regiões sul e sudeste as temperaturas estão baixas e tem chovido em várias áreas. Parece existir uma relação direta entre clima e temperamento humano. Os brasileiros que moram nas regiões quentes, de um modo geral, são mais abertos para o relacionamento com os outros seres humanos. Os habitantes das regiões de clima frio são mais reservados e têm dificuldades para ter contatos com outros seres humanos, foi esta a impressão que tive quando morei na região sul.

Animado pelo calor nordestino desta manhã de sol e pela beleza do dia, saio da toca e resolvo dar uma caminhada pelos arredores, apenas para esticar a musculatura das pernas e arejar a alma. Observo as pessoas a saírem apressadas nos seus automóveis, alguns com crianças vestidas com suas fardas escolares. Nalguns carros as pessoas vão sorridentes, noutros estão com cara de quem está a caminho da forca. Observo que as crianças apresentam o mesmo humor dos adultos, parecem até fotocópias dos estados de espírito dos adultos. Então, eu indago a mim mesmo: seria o estado de espírito das crianças um reflexo do estado de espírito dos adultos? Eu pergunto a mim mesmo se um adulto triste e infeliz é capaz de cumprir a tarefa principal de um pai: ensinar os seus filhos a serem felizes.

Algumas pessoas passam por mim, estão apressadas e não se dão ao trabalho de responder ao bom dia que lhes desejo, outras abrem um sorriso encantador e me desejam mais do que um dia de paz e de alegria. Eu me lembro que muitas vezes deixei de falar com muitas pessoas, de pensamento fixo nos problemas que iria enfrentar no trabalho eu não respondia ao cumprimento de uma pessoa que não conhecia. Achava estranho o tipo de pessoa que passa na rua e cumprimenta quem não conhece. Hoje eu cumprimento quem não conheço e acho estranho quem não responde ao cumprimento. Como o tempo modifica a nossa maneira de pensar e de agir!

Depois de caminhar por algum tempo volto para casa lentamente, resolvo regressar pela calçada de uma rua mais tranqüila. Alguns cachorros latem ferozmente quando passo em frente das suas casas. Fugi do barulho de uma rua movimentada, mas os cachorros substituíram muito bem o barulho dos automóveis. Uma casa está com o rádio ligado, o som está tão alto que toda a rua escuta. Pessoal “simpático” aquele, compartilha com os seus vizinhos o seu gosto musical, a rua toda pode escutar música sem gastar nem um centavo de energia elétrica. Fico a imaginar como são os habitantes daquela casa, caso o “barulho interior” deles seja tão grande quanto o “barulho exterior”, ali deve ser um local difícil de encontrar paz.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org

João Pessoa, 28 de agoto de 2007.

 

                   0 Comentários 170 Views