Procurando alguma coisa?

Crônicas

A Quimerista

Uma vida atribulada sob todos os aspectos, a começar pelo financeiro. Ela não consegue ajustar as suas despesas ao seu salário, gasta mais do que ganha, está sempre usando o cheque especial, com conseqüentes pagamentos de juros e taxas, complicando mais ainda sua situação financeira. Usa os cartões de crédito no limite, geralmente com compras desnecessárias, realizadas algumas vezes por impulso, noutras ocasiões para aparentar um padrão de vida que está muito acima da realidade da sua condição financeira. No aspecto sentimental sua vida é um desastre, vive a pular de um relacionamento para outro, com a mesma facilidade com que troca de roupa.

Ela adora fazer ligações telefônicas para suas amigas, passa mais de uma hora em conversa à-toa, toda vez que consegue encontrar alguém disposto a ouvi-la. Telefona para os parentes que moram em outras cidades, sua conta telefônica atinge valores acima das suas possibilidades financeiras, mas isto não lhe causa a menor preocupação. O atraso no pagamento da conta telefônica causa o bloqueio parcial, o que a impossibilita de fazer ligações, mas ela não se abala, vai até o orelhão mais próximo da sua casa, telefona para uma amiga e pede para ligar dentro de cinco minutos para sua residência, retorna e fica aguardando a ligação. Alguns amigos, em tom de brincadeira, dizem estarem conseguindo uma vaga de telefonista para ela junto à empresa telefônica.

Ela conhece todos os restaurantes, casas noturnas e bares da cidade e dos arredores. Sempre encontra alguém para fazer uma refeição fora nos feriados e nos finais de semana, por conta da pessoa que ela convida, naturalmente. Quando o seu salário é depositado no banco não cobre os descontos realizados por sentenças judiciais e cheques pré-datados, frutos do seu impulso incontido de comprar roupas e sapatos.

Certa vez perguntei aos seus parentes por que não falavam com ela. Fui informado que a família tinha realizado reuniões para discutir o assunto com ela, eles pagaram todas as suas contas depois dela ter jurado, com a mão direita sobre a Bíblia e a esquerda sobre o coração, que jamais voltaria a realizar compras a prazo. Ela conseguiu cumprir a promessa por quarenta e oito horas, depois jogou seu juramento na lata do lixo e voltou a comprar compulsivamente.

Ela é uma pessoa generosa, uma conversa agradabilíssima, está sempre disposta a ajudar qualquer pessoa sem medir esforços, mas é um desastre quando se trata da parte financeira. Os que a conhecem há mais tempo e são seus amigos não lhe emprestam dinheiro, apenas pagam um almoço ou um jantar para desfrutarem da sua companhia, sempre alegre e cheia de novidades sobre os mais diversos assuntos. Jamais a vi de cabeça quente, contrariada com qualquer coisa.

Em alguns aspectos da vida eu gostaria de ser tão “leve” quanto ela.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, julho de 2006.

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