Procurando alguma coisa?

Contos

Reencontro

Dois velhos amigos, que há muitos anos não se viam, reencontram-se na clínica médica onde foram fazer exames de rotina. Fizeram o primeiro e o segundo graus juntos, resolveram seguir profissões diferentes, freqüentaram a mesma universidade, mas assistiam aulas em locais diferentes e distantes, passaram a estudar com outras pessoas, perderam o contato. Depois vieram os cursos de pós-graduação em outras cidades, seguiram rumos diferentes, seus caminhos não se cruzaram durante vários anos. Cada um fez um rápido resumo dos anos que estiveram separados, falaram sobre suas famílias, trocaram informações acerca de alguns amigos do tempo de estudante. Um deles é chamado para os exames, trocam cartões e marcam um almoço na cidade para reatarem os laços de amizade. Poucos dias depois vamos encontrar os dois amigos almoçando em um restaurante, conversam animadamente.

– Eu nunca imaginei que você se transformaria em um empresário de sucesso, coloca André. Naquele tempo a nossa turma pensava que você seria religioso ou exerceria alguma atividade burocrática como funcionário público e aqui está você, um empresário de sucesso! As revistas que eu leio mostram que a sua empresa está classificada como uma das grandes organizações da nossa região.

– A vida é cheia de mudanças surpreendentes, responde Luiz, nós comentávamos que você seria um empresário, seguindo o exemplo de seu pai, você começou a trabalhar na empresa da família antes de fazer a universidade. Foi treinado para ser empresário e se transformou em um profissional liberal competente e bem remunerado.

– Eu fiz uma experiência como empresário, mas nunca consegui me sentir realizado, existia sempre uma insatisfação interior. Depois que fiz algumas experiências como professor e como consultor de empresas, descobri que estas eram as atividades que queria fazer. Quando me dediquei a estas duas atividades passei a sentir uma satisfação interior que não encontrei como empresário. Deixei a gestão da empresa com os meus irmãos e participo apenas das discussões sobre os rumos do empreendimento. Ganhar dinheiro não é o objetivo da vida de uma pessoa, é uma conseqüência do fato de fazer bem aquilo que gosta. Diga-me uma coisa Luiz, você é feliz como empresário?

– Muito, eu sinto satisfação ao dirigir e expandir as empresas e torna-las cada vez mais competitivas, conquistar novos mercados aqui e no exterior. Eu me sinto realizado.

– Qual a política das suas empresas com relação aos recursos humanos?

– Minhas empresas devem ser lugares onde os colaboradores tenham prazer de trabalhar. Eles participam dos resultados obtidos e recebem várias outras vantagens, nós temos programas variados de crescimento para aqueles cujo potencial é identificado nas avaliações periódicas que fazemos. Vamos deixar os assuntos profissionais de lado. Vamos fazer um programa juntos neste final de semana?

– Que tipo de programa, pergunta André.

– Eu tenho um iate com duas cabines, nós poderemos passar um final de semana pescando e visitando algumas ilhas aqui por perto.

– Preciso consultar minha esposa antes de lhe dar uma resposta.

– Você está maluco! Eu estou falando de levarmos duas garotas que conheço e fazermos uma boa farra por aí.

– Devo lhe confessar uma coisa, eu não sou a pessoa indicada para este tipo de programa. Até esta data não traí minha esposa e não pretendo adotar este tipo de comportamento.

– Desculpe, não sabia que você era camisolão.

– Não sei o que significa camisolão para você, nem estou interessado em saber, mas nos finais de semana passo a maior parte do tempo com a esposa e os filhos, o que me dá um imenso prazer e não pretendo mudar este comportamento.

– Tudo bem, nós não vamos discutir por isso. Quando eu fizer uma reunião em casa convidarei toda a sua família para nos conhecer. Eu tenho alguns amigos que conhecem o seu trabalho como consultor e eles fizeram muitos elogios a você, quando relatei nosso reencontro. Mudando de assunto: você tem um bom relacionamento com a sua família?

– Toda família tem seus momentos de brigas, são ocasiões que podem e devem ser aproveitadas para aplainar as arestas existentes, caso haja maturidade e amor entre as partes envolvidas no conflito. Tirando estes pequenos atritos existentes em todos os lares, eu diria que nossa família vive em harmonia.

– Não tenho um bom relacionamento com a minha família. Minha esposa e os meus dois filhos têm uma convivência complicada comigo, mas vamos deixar os problemas familiares de lado.

– Você deve examinar qual a sua contribuição para a paz no seu lar. Converse com sua esposa com o coração aberto, trate-a com lealdade e com carinho, em pouco tempo você terá amor dentro do seu lar, coloca Luiz.

– Agora é você que parece um religioso falando. Eu sei que você tem razão, em outra hora conversaremos sobre este assunto, agora tenho de ir para uma reunião importante.

Os amigos param a conta e se despedem. André retorna para seu trabalho pensando nas mudanças ocorridas na vida dos seus amigos do tempo de estudante. André se indaga a razão de alguns relacionamentos serem harmoniosos, enquanto outros são verdadeiras guerras civis, com danos para todos os envolvidos. Qual a razão de algumas pessoas viverem em paz e outras viverem em constantes atritos? Meditando sobre estas questões ele volta para as suas atividades profissionais, durante o trajeto pensa na conversa que tivera com o seu amigo de infância, como a vida de cada pessoa acontece de maneira bem diferente daquela que as pessoas imaginam nos primeiros anos das existências dos seres humanos.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, maio de 2008.
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