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Uma brisa suave sopra do mar, balança as palhas dos coqueiros, refresca a manhã. Pedro e Helena passeiam pela praia neste domingo ensolarado, fazem planos para o futuro, sonham com uma vida em conjunto, debaixo do mesmo teto. A praia é um espaço democrático, permite diversão para pessoas com poucos recursos financeiros, razão de ter se tornado o principal entretenimento dos dois. Eles namoram há três anos e abriram uma caderneta de poupança para juntar os recursos necessários para montarem uma casa e viverem juntos, tão logo tenham a quantia necessária para a concretização dos seus sonhos de casamento. Eles contribuem com as despesas de manutenção das casas de seus pais, o que reduz a quantia que podem poupar mensalmente. Helena sempre sonhou em casar em uma igreja, mas a situação financeira dos dois não permite tais gastos, há dois anos eles juntam dinheiro poupado dos seus modestos salários, mas ainda estão longe de concretizarem seus sonhos. Eles caminham de mãos dadas, conversam sobre suas dificuldades para montar seu ninho de amor.

– No próximo mês vou tirar férias, coloca Pedro, recebi uma proposta para ajudar um amigo e ganhar um dinheiro extra durante meu período de férias, vai ser muito bom, aumentaremos nossa poupança.

– Eu fico preocupada com você, vai trabalhar durante as férias, não terá descanso. Às vezes eu acho que não existe justiça no mundo, algumas pessoas têm tudo sem fazer esforço e outras trabalham muito, fazem um esforço tremendo para realizar poucas coisas. Por que razão estas coisas acontecem, pergunta Helena.

– Existem muitas explicações filosóficas que começam a ser pesquisadas pelos cientistas. Acredito que este novo século trará respostas para muitas indagações do ser humano, dentro de pouco tempo a ciência e a religião serão consideradas apenas caminhos diferentes para explicar o universo.

– Você é muito otimista. Os homens são muito otimistas, as mulheres têm uma visão mais clara da realidade, sem serem pessimistas. Há mais de dois anos que nós lutamos para juntar os recursos necessários para vivermos juntos e ainda teremos de esperar mais dois anos. Todo este tempo apenas para mobiliarmos uma casinha cujo aluguel consumirá uma boa parcela dos nossos salários.

– Mas será o recanto mais feliz do mundo! O que nos faltará em recursos financeiros será compensado pela felicidade de estarmos juntinhos, adormecer e acordar beijando você, serão dias muito felizes.

– O nosso amor será forte o suficiente para suportar as dificuldades que enfrentaremos. Eu gostaria muito de casar no religioso, usar um vestido bonito, mas a realidade foi apagando este sonho de mulher, hoje peço a Deus apenas os recursos necessários para construir nosso lar, apenas um cantinho modesto para vivermos uma vida conjugal com o mínimo necessário para nossa sobrevivência sem passarmos necessidades. A falta de recursos materiais será compensada com muito amor.

– Você é uma mulher muito forte. Nós enfrentaremos muitas dificuldades financeiras, mas seremos muito felizes.

– Eu não poderei dizer no trabalho que vou casar, eles costumam demitir as mulheres que casam. No próximo mês estarei fazendo aquele concurso, se eu conseguir passar será muito bom, nós poderemos casar logo após eu assumir o cargo e a nossa vida será bem melhor, não teremos dificuldades financeiras.

– Dentro de poucos meses eu assumirei uma nova atividade na empresa e o salário vai melhorar. Em pouco tempo nós conseguiremos comprar nossa casa, pode escrever o que estou lhe dizendo.

– Pedro, Pedro, eu gostaria de ter o seu otimismo… A nossa vida tem sido uma luta constante para realizar nossos planos. Esta realidade mudará se você for promovido, se eu passar no concurso, dependemos de muitas coisas que podem não se tornarem realidade.

– Nós superaremos estas dificuldades atuais com a força do amor que nos une, existirão outros concursos que poderemos nos preparar para fazer. Conhecemos

muitas pessoas que são ricas, apesar do dinheiro eles vivem um casamento infeliz. Nós estamos habituados a uma vida modesta, a viver com poucos recursos e a enfrentar dificuldades, seremos felizes apesar de nos faltar dinheiro para fazermos muitas coisas que todo casal gosta de fazer. O importante é que nos amamos muito e temos prazer em estar juntos.

– Eu fico preocupada com nossas famílias, quando sairmos das casas de nossos pais eles sofrerão duas perdas: uma sentimental e outra financeira. A vida do trabalhador é cheia de dificuldades em muitos aspectos.

– Nossos pais já passaram por este problema quando casaram, eles são pessoas amadurecidas pelas lutas diárias e sempre nos incentivaram a termos nosso cantinho, coloca Pedro. Você está com medo de sair de casa?

– Há muito tempo estou preparada para sair de casa, apenas não gostaria de causar dificuldades para meus pais. Uma amiga me disse que o dinheiro do pobre é semelhante a um cobertor curto, não protege o corpo todo, quando cobrimos o peito descobrimos os pés, quando cobrimos os pés descobrimos o peito, temos de escolher qual parte do corpo vamos manter aquecida.

– Quando eu for promovido e você assumir um novo emprego esta situação mudará.

– Uma das coisas que gosto em você é o otimismo, diz Helena.

– O nosso amor será suficiente para nos impulsionar para a construção de um futuro melhor. Ainda enfrentaremos dificuldades durante algum tempo, mas teremos um ao outro e a certeza de que em breve todos os obstáculos serão vencidos.

– Vamos voltar para nossas casas, tenho de estudar para fazer o concurso, este mês nossos encontros serão rápidos.

– Dentro de pouco tempo estaremos vivendo debaixo do mesmo teto. Vamos pegar o ônibus e retornar para casa.

Pedro e Helena retornaram para seus lares, pelo caminho fazem planos para o futuro, pensam nas coisas que comprarão para o seu lar. Depois de deixar a namorada em casa Pedro sai em busca de seu amigo para conseguir um trabalho durante as férias, com a finalidade de concretizar seu sonho. Helena vai estudar para o concurso, sonha mudar de emprego, casar e ter dois filhos. Apesar das dificuldades eles estão construindo um futuro de amor e paz, com a fé e a esperança daqueles que acreditam em si e em Deus.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, maio de 2008.
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