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Contos

Dois Homens

Dois homens estão jantando em uma lanchonete. Eles estão de passagem pela cidade, enviados pelas empresas em que trabalham para executarem algumas atividades nas filiais ali instaladas. Estão sentados em mesas contíguas, fazem uma refeição ligeira antes de irem para o hotel, depois de um longo e cansativo dia de trabalho. Após as suas refeições rápidas e leves, os dois permanecem sentados nas mesas da lanchonete que começa a ficar sem movimento naquela hora da noite. Após algum tempo os dois se apresentam e começam uma conversa.

– Você trabalha aqui por perto, pergunta Alfredo.

– Não, estou de passagem pela cidade, cumpro um roteiro de trabalho estabelecido pela empresa em que trabalho, responde Germano.

– Eu também, o meu trabalho me leva a viajar durante uma boa parte do mês. Deixo de conviver muitos dias com a esposa e os filhos.

– Eu viajo pouco e as minhas visitas a outras cidades são muito rápidas. Vamos fazer um trato: nada de falar de trabalho.

– OK. O que você faz quando está viajando? Você sai para se divertir com o pessoal da empresa?

– No começo eu fiz isso uma ou duas vezes, mas os programas deles envolviam atividades com as amigas deles e tinham como finalidade fazer sexo. Eles sempre levavam uma amiga para me fazer companhia nestas ocasiões, mas eu me recusei a trair minha esposa, fui classificado como “camisolão” e me afastei, prefiro não participar destas noitadas, responde Germano.

– Eu gosto de estar com a minha família e não sinto necessidade de ter uma aventura fora do casamento. Na empresa em que trabalho as pessoas que traem seu consorte são tidas como desonestas e não têm oportunidade de progredir na escala hierárquica, o comportamento oposto ao citado por você.

– Você já notou que as empresas são “seres vivos”, isto é, cada uma tem uma determinada personalidade.

– Concordo com você, já notei isso. Observo que a personalidade da empresa é resultante da personalidade do seu principal dirigente. Uma empresa cujo dirigente principal é honesto tem um comportamento honesto com os seus clientes e os seus colaboradores.

– Embora os diretores possam exercer alguma influência na empresa, concordo com você, acho que a maior influência, aquela que dita realmente a direção a ser seguida por todos é a do seu dirigente maior. É ele quem dá determinada personalidade à organização.

– Os outros dirigentes exercem pouca influência na formação da personalidade da empresa, coloca Alfredo.

– O dirigente de uma área não consegue influenciar os colaboradores de outras áreas da empresa, pois eles estão subordinados a outros dirigentes. Entretanto, o presidente influencia todas as áreas da empresa, ele tem o poder de dizer como as coisas serão feitas em toda a empresa.

– Acho que esta sua observação é correta.

– Uma organização é um ser vivo e tem uma personalidade que é o reflexo da personalidade do seu dirigente principal. Um presidente trabalhador e honesto irradia este comportamento por toda a organização e forma a personalidade desta organização.

– Agora eu fiquei preocupado…

– Qual a causa da sua preocupação, indaga Germano.

– O nosso Brasil! O que nós vemos em todos os níveis hierárquicos da administração pública, nos poderes legislativo, executivo e judiciário, é uma roubalheira infernal, malas de dinheiro para negociações escusas, pacotes de dinheiro descobertos em banheiros e outras notícias de desonestidade nos três poderes. E isto é apenas a ponta do iceberg, imagine o que não sabemos.

– É por isso que a nossa carga tributária é tão alta. Mas existe muita gente honesta lutando para transformar o Brasil. O importante é que eu faça a minha parte, você faça a sua parte e que aprendamos a usar o voto como uma arma para mudar o Brasil.

– Nossa conversa está muito boa, mas tenho que acordar cedo amanhã. Foi um prazer conhecer você, despede-se Alfredo.

– O prazer foi todo meu, boa noite, despede-se Germano, que fica a pensar como seria a carga tributária do Brasil sem os dirigentes corruptos.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
João Pessoa, novembro de 2007.
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