Procurando alguma coisa?

Obras de Amigos

Readaptação − Maria Alice Fernandes

Deixei o Nordeste – mais precisamente João Pessoa –, quando não tinha ainda completado vinte anos. Morei no Rio de Janeiro durante pouco mais de duas décadas (com um intervalo de alguns meses em Londres), e em Brasília por um quarto de século.  Portanto, quando resolvi me mudar para Fortaleza, em 2008, constatei que teria que passar por um processo de readaptação, começando pela linguística.

Gente, não estou exagerando.  A primeira empregada doméstica que contratei não conseguia entender o que eu estava falando.  Primeiro, foi difícil convencê-la a separar lixo orgânico de lixo reciclável, um desperdício de tempo, segundo ela, porque vai tudo parar no mesmo lugar, então pra que separar o que vai se “rebolar no mato”?  Foi a primeira experiência de meu longo aprendizado.  Há expressões de espanto como “afe” – que se fala baixinho e assim: aaaafi; ou o “vixe” que é um pouco mais enfático. E no começo foi difícil assimilar que “reladeira” é o mesmo que geladeira, e que “rumbora” ou “rambora” significa vamos embora, ou simplesmente: vamos!

Independentemente do nível de instrução do interlocutor, ninguém toma conta de alguma coisa, mas “toma de conta”; e não adianta dizer que você vai ao supermercado, porque a maioria vai querer ir ao “mercantil”.  Mas a expressão que mais gosto, a que definitivamente adotei é “isso é uma falta de absurdo!” e que quer dizer exatamente o contrário.

Continuando a falar em readaptação, existe um aspecto da vida nesta bela cidade para o qual não quero e não pretendo me adaptar: o trânsito.  Ou melhor, a falta de educação no trânsito. Cinto de segurança? Pra que?  Incomoda.  Faixa de pedestre é bom porque você, que está de carro, pode atingir o maior número possível dos idiotas que resolveram atravessar na sua frente, logo quando está com pressa… Strike!  Ultrapassar pela faixa da esquerda é que é proibido. Buzina é bom, senão o carro não vinha da fábrica com ela, e serve para tudo: cumprimentar, xingar, advertir, ou tocar só por tocar.  E essa história de esperar na faixa – mesmo quando o sinal está verde, mas os carros estão parados depois da esquina – é idiotice, coisa de baitola.  Vixe!!!

Fortaleza, 06 de maio de 2013.

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