Procurando alguma coisa?

Obras de Amigos

Não Sou Santa, Pessoal! – Maria Alice Fernandes

Estou começando a ficar assustada com uma porção de gente me elogiando, falando de minha generosidade, coragem, e coisas que tais.  Claro que me emociona e me sinto honrada, mas a criatura sem mácula a que se referem não sou eu.  E gostaria que vocês soubessem como me vejo.

Sou paciente, sim.  Mas de um tipo específico de paciência e tolerância.  Até uns tempos atrás, costumava dizer que minha paciência era dirigida a crianças, velhos e bêbados.  E tolerei usos e abusos de certas pessoas a quem estava ligada por laços afetivos dos mais fortes. Mas hoje em dia a paciência abrange somente a população infantil, os velhos foram eliminados depois que me tornei membro do clube, os bêbados me são indiferentes. E os abusados foram simplesmente afastados da convivência.  E quando digo simplesmente, me refiro a que os apaguei da memória afetiva de tal forma que nem ao menos recordo suas feições.  Simples assim.

Como estão vendo, nada bonito ou generoso, caridoso ou santo, do ponto de vista cristão, espírita, budista ou maometano.  Para compensar, não uso as pessoas e jogo fora quando me convém ou não servem para algum propósito. Os amigos de cinco décadas estão aí para confirmar – os que ainda estão por aqui pelo planeta, quero dizer.  Não tenho centenas de amigos, mas sou inteiramente fiel aos que possuo, e os tenho de todas as idades, e alguns dos mais recentes mal saíram da adolescência.

Tenho crises periódicas de auto piedade, também. Sou capaz até de chorar com peninha de mim, coitada! Sou muito capaz de me fazer aquelas perguntas idiotas do tipo “Por que não aceitei aquele convite para trabalhar fora do Brasil”, ou “Por que não fui embora e deixei todo mundo viver sozinho”? Ou, a mais importante: “Por que fui tão burra, tão cega, tão idiota?”. Para minha sorte – ou azar, lá sei eu – as crises não duram muito tempo. Porque ouço uma vozinha implacável dizendo no meu ouvido: “As decisões foram tomadas por você, sua cretina. Aguente as consequências e tenha a decência de não culpar ninguém”.

Admito: às vezes é horrível conviver comigo mesma. É desgastante.

Fortaleza, 09 de Julho de 2013.

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