Meu caro amigo Chico Buarque, parabéns pelo aniversário (19/06/1944), tuas canções me embalaram durante tantos anos, você não ”Imagina” o quanto aprendi e aprendo com elas, que dizem sempre as coisas da maneira exata que gostaria de ouvir/entender/dizer. Sempre na veia aorta, por isso vai direto ao coração. Teu nome é sensibilidade…
Num desentendimento de namoro “Retrato em Branco e Preto” – Vou colecionar mais um soneto outro retrato em branco e preto a maltratar meu coração… Até evitou escrever uma longa carta, bastou a letra da música. Quando chegou meu primeiro filho (Dário), atônito, com 17 anos e prestes a embarcar na Marinha, você descreveu meu desespero tão bem em “O Meu Guri” – Quando seu moço nasceu meu rebento não era o momento dele rebentar… Não posso escutar “A Rita” sem lembrar minha mãe – A Rita levou meu sorriso, no sorriso dela meu assunto… Contestei valores e reconstruí minhas idéias e convicções com o “Bom Conselho”… As noções léxicas aprendi em “Construção”,” Bye, bye Brasil” e “Brejo da Cruz”. Como pode um poeta acertar sempre em cheio! Ah! Minha filha não se chama “Bárbara” por acaso.
Sabe Chico, na sua arquitetura e “Construção” da tua obra várias características me chamam atenção: – A miniestória, ou o miniconto; – A citação, o enfoque, a abordagem dos marginalizados e, particularmente a prostituta;
– A mistura de elementos sócio-geo-rítmicos; – O dia especial; – O processo de por em contradição o conceito do consensualmente estabelecido, ou o antiético inesperado; – A linguagem de fresta; – Compor e cantar no feminino (anima).
Estudando tua obra, tua vida e ainda, baseado em teus depoimentos, concluo que a tua convivência num ambiente predominantemente feminino, facilita o entendimento da alma e do sentimento das mulheres, afinal são quatro irmãs: Miúcha, Cristina, Ana e Pii. São também três filhas: Silvia, Helena e Luísa. Isso, entendo, explica: Tatuagem, Pedaço de Mim, Valsinha, Com açúcar e com afeto, Sem açúcar, Mulheres de Atenas, Você vai me seguir, Atrás da porta, Folhetim, Sob medida, Olhos nos olhos, Uma canção desnaturada, O meu amor, entre outras. Sou feliz pelo privilégio de ser teu contemporâneo e agradeço também em nome das: Madalenas, Carolinas, Angélicas, Januárias, Luísas, Ritas, Teresinhas, Rosas, Bárbaras, Cristinas, Joanas Francesas, e Annas de Amsterdam.
Caro Francisco Buarque de Hollanda (agora mais formal), aprendi melhor a admirar a língua portuguesa e o gosto para escrever contigo. “Tudo que é ligado à palavra me interessa” (Chico Buarque).
Lamento pela morte de “Pedro Pedreiro” na “Construção”, mas espero por um “Bom Tempo” e a “Banda” passar novamente cantando coisas de amor. Parabéns.
Sérgio Vieira de Melo – Bom Jardim PE. JUN. 19, 2011