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Crônicas

Xale II

As chuvas chegaram e amenizam a temperatura, os dias não são muito quentes e as noites são agradáveis. Nesta época do ano algumas mulheres usam xale, apesar da temperatura no Nordeste não ser fria no outono. É bonito ver uma mulher de xale, algumas têm um jeitinho especial de colocá-lo nos ombros, a mim estas mulheres dão a impressão de dizer com o corpo: preciso também de alguém para aquecer minha alma. Geralmente são mulheres da minha geração, as mais jovens não usam xale, preferem casacos.

O que aquece um homem é um bom xale de orelhas, daqueles que são capazes de manter o corpo em uma temperatura agradável e incendiar a alma. Quem tiver um xale assim faça tudo para não o perder, existam muitos xales no mercado, mas é difícil encontrar um que aqueça na temperatura adequada tanto o corpo quanto o espírito. Portanto, quando encontrar o xale que procura, venda tudo o que tem e use na sua aquisição.

Deve existir uma adequação entre o xale e o corpo que ele aquece, vamos tentar construir uma imagem para tornar nossa idéia mais clara. Uma pessoa que não sabe usar computador e objetos eletrônicos, não deve comprar um xale eletrônico de última geração e muito sofisticado, ela não saberá usá-lo, vai ser apenas um objeto para demonstrar o seu poder aquisitivo, mas qualquer ser humano vai notar que esta pessoa não sabe usar aquele tipo de xale, que ela deveria ter um xale de tecido para aquecê-la. Ao notar que um ser humano tem um xale eletrônico de última geração, mas não consegue usar os recursos que ele oferece, vão aparecer pessoas jovens que irão utilizar o xale da maneira adequada.

Alguns xales ao perceberem que seus donos não os utilizam mais, ficam tristes e vão para a gaveta de algum móvel. Com o passar do tempo ficam mofados, não percebem que é desagradável para as pessoas estar perto de um xale com cheiro de mofo. É importante para o xale estar sempre lavado e passado, pois ele não sabe quando e onde encontrará um corpo que necessita exatamente daquele tipo de xale. Estas ocasiões não podem ser desperdiçadas, pode ser uma daquelas oportunidades que só acontecem uma vez na existência de um ser humano.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 24 de março de 2009.
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