Procurando alguma coisa?

Crônicas

Simpatias

No meu tempo de criança, quando uma pessoa se apaixonava e desejava saber se o alvo da sua paixão também a amava, apanhava uma margarida do jardim da sua casa, ou da casa do vizinho, e a despetalava. As pétalas da margarida eram arrancadas uma a uma, na primeira pétala a pessoa dizia bem-me-quer, a segunda era mal-me-quer, a terceira pétala era bem-me-quer, a quarta era mal-me-quer, e assim seguia até a última pétala. As garotas sorriam satisfeitas quando a flor respondia bem-me-quer e ficavam tristes quando a resposta era mal-me-quer. Quando recordo estes fatos da infância eu me pergunto: será que elas entendiam ser aquela uma mensagem divina e, por assim acreditarem, ficavam alegres ou tristes com a resposta da flor. Os garotos também despetalavam a margarida, mas às escondidas, fazer isto era coisa de mulher e ninguém queria ser alvo da zombaria dos amigos e ser chamado de mulherzinha.

Com o passar do tempo nós crescemos e as indagações mudaram. Agora as garotas desejavam conhecer outras coisas, pois saber se os namorados as amavam elas não necessitam de ajuda, já tinham aprendido a reconhecer estes sinais nas experiências vividas anteriormente. Agora as garotas querem saber se vão casar, as consultas mudaram seu enfoque e agora são endereçadas a Santo Antônio, o santo casamenteiro. Em um determinado ano, na noite da véspera do dia de Santo Antônio, as minhas irmãs e algumas garotas da vizinhança entraram alvoroçadas na nossa casa, cada garota com uma faca na mão, dirigiram-se alvoroçadas para o quintal. Fiquei curioso, fui ver o que elas iam fazer. Elas ficaram diante das bananeiras, as mãos postas como se estivessem rezando, em seguida cravaram as facas nas bananeiras e as deixaram lá. Ao perceberem que eu tinha presenciado o que elas tinham feito, fizeram várias ameaças de me surrar e outras “coisas”, caso eu mexesse nas facas. A minha mãe agiu de uma maneira mais inteligente, me deu uma faca que disse não ter sido usada e me levou a fazer a simpatia. Quando acordei no outro dia as garotas já estavam com suas facas nas mãos, lendo os nomes que Santo Antônio tinha escrito. Corri para o local onde tinha enfiado a faca na bananeira e a retirei. Tinha várias manchas em um dos lados, entretanto, por mais boa vontade que eu tivesse, não conseguia ver um nome escrito na faca. Externei a minha decepção, as minhas irmãs pegaram a faca e leram dois possíveis nomes. Senti-me aliviado, eu não iria “ficar no caritó”. A partir deste dia passei a acreditar que as mulheres são fadas ou bruxas, pois vêem coisas que o sexo masculino não tem condições de perceber.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 5 de novembro de 2009.

 

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