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Crônicas

Poesia II

Não sei quanto tempo faz que a minha alma encontra-se em estado de letargia, sem poesia, vazia. A falta de pão e de amor não me incomoda tanto quanto a falta de poesia. Olho para trás e vejo quantas vezes a poesia já me abandonou e retornou após algum tempo, fingindo que nada aconteceu, como se estivesse acordando ao meu lado após uma noite de amor. Muitas coisas eu já prometi fazer para puni-la pelo abandono a que me relega por longos dias, mas nada faço quando ela retorna, sempre a recebo com alegria. A poesia sabe que as minhas promessas são falsas, por esta razão ela volta sem a mínima preocupação de explicar a razão do abandono. Apenas ocupa o seu lugar e escreve o que deseja, sem se desculpar pelo tempo que me abandonou, sem se preocupar com o vazio deixado pela sua ausência. Ela é assim.

A poesia conhece todos os recantos da minha alma, anda por regiões que desconheço e me assusto com as coisas que ela me leva, inconscientemente, a revelar quando escrevo um verso. Ela mostra a minha alma para todas as pessoas, sem a menor cerimônia ela me desnuda, sem se incomodar com meus pudores. Coisas que gostaria de esconder, ela mostra nas entrelinhas. Muitas vezes quis deixar de escrever poesia, esconder os meus segredos até de mim, mas não sei viver sem a poesia, é uma necessidade tão forte da alma que não vivo sem ela. Quando ela me abandona e nada escrevo, passo o dia a ler as poesias que outras pessoas escreveram. Somente quando leio várias poesias a minha alma fica saciada.

Não gosto da maneira como algumas poesias mostram a sexualidade do ser humano, acho grosseira, vulgar, deselegante. Todos os assuntos podem e devem ser tratados pela poesia, sem barreiras, mas de maneira elegante. A elegância é fundamental em todas as manifestações da Vida, na poesia ela é indispensável. A poesia pode e deve tratar de sexo, falando abertamente sobre quaisquer aspectos da sexualidade humana, mas sem vulgaridade. Alguns poetas escreveram versos sensuais de uma maneira linda, elegante. São trabalhos conhecidos e podem ser divulgados em qualquer ambiente.

Uma poesia retrata a visão do seu autor sobre um ou mais aspectos da realidade. Cabe ao leitor estar consciente de que uma poesia, tanto quanto um trabalho científico, é o resultado do modo como seu autor percebe a realidade. É necessário ler vários autores acerca do mesmo assunto, com a finalidade de dilatar a nossa percepção acerca daquele aspecto da realidade ou da ficção. O poeta deve estar atento, assim como o leitor, para o fato de que a poesia espelha um aspecto da vida humana, sem conseguir abraçar a realidade, apenas tocá-la de leve.

Algumas poesias são sublimes, geniais, falam a todos os corações. Somente os grandes mestres conseguem esta façanha e tornam a sua poesia imortal.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 10 de Abril de 2011.

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