Procurando alguma coisa?

Crônicas

Olhos

Alguns olhos são indiscretos, eles revelam o que se passa na alma, não escondem nada de quem os observa com atenção. Tais olhos revelam, sem a menor cerimônia, o que se passa no espírito e no corpo. Alguns olhos são enormes e dão a impressão de querer pular do rosto, enquanto outros são tão pequenos que mal conseguimos vê-los. O tamanho dos olhos não influencia a capacidade de enxergar as coisas essenciais da vida, para isso é necessário ter “olhos de ver”, somente possuídos pelas crianças de todas as idades.

Olhos quentes e convidativos acendem a chama do desejo, enquanto olhos frios e indiferentes apagam a chama do corpo. Alguns seres humanos sabem enfeitiçar com o olhar, hipnotizam as suas presas e as devoram com facilidade. No outro extremo desta escala existem seres humanos cujos olhos são inexpressivos, seu olhar é semelhante ao de um peixe morto, embora o peixe, mesmo morto, tem os olhos mais expressivos, o peixe morto parece vislumbrar o que existe depois da morte.

Os olhos dos que se assemelham ao olhar puro de criança são inquietos, procuram algo, descortinam horizontes esquecidos pelos adultos. Poucos adultos conservam no olhar a vivacidade do olhar da criança, nós deixamos a nossa criança ficar em estado de coma. A criança tem olhos de ver a vida, ela enxerga o que um adulto nem percebe, pois nós adultos perdemos a capacidade de ver a magia das coisas do dia-a-dia. Depois de certa idade algumas pessoas vivem os vôos das suas existências como se estivessem com o piloto automático ligado, elas dão a nítida impressão de que não estão interessadas em saber para onde vão, para onde as suas atitudes conduzem os barcos das suas vidas, deixam ao vento a tarefa de conduzi-las.

Algumas pessoas dizem que os olhos são os espelhos da alma, então nós chegamos à conclusão de que existem muitas almas apagadas, sem nenhum brilho. Os olhos de uma pessoa contagiam todo o corpo de outra pessoa. Estar junto de uma pessoa cujo olhar é cativante, é bem diferente de olhar para os olhos de uma pessoa cujo olhar é do tipo peixe morto.

Alguns olhos são amorosos, temos vontade de abraçá-los; outros são odiosos,desejamos estar bem longe deles. Olhos que vêem o que não existe, olhos que não vêem a realidade. Olhos discretos como um frade beneditino, olhos indiscretos como uma prostituta. Olhos lesos não vêem o que devem ver, olhos neuróticos vêem o que não existe. Olhos de todas as cores e de todos os tamanhos formam combinações fantásticas, capazes de atender a todos os gostos. Existem pessoas que não gostam de olhar nos olhos, perdem os momentos mais ricos na vida de um ser humano.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 5 de julho de 2007.
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