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Crônicas

Duas Marias

As duas nasceram no mesmo dia e foram batizadas com o nome de Maria, uma como Maria dos Prazeres e a outra Maria das Dores, por escolha dos pais. As duas receberam da vida destinos diferentes daqueles sugeridos pelos nomes escolhidos pelos seus pais e com os quais foram batizadas. A dos Prazeres tem uma vida de sofrimentos e privações, enquanto que a das Dores tem uma vida de prazeres e fartura, uma estranha ironia da vida.

Uma coisa as duas têm recebido da vida em igual dose: as piadas dos colegas com os seus nomes, algumas espirituosas e outras de mau gosto, ambas suportadas com estoicismo pelas duas. Tais piadas as perseguem desde o tempo de colégio, com o passar dos anos diminuíram apenas de intensidade e já não as incomodam. O tempo e a maturidade tinham se encarregado de fazer com que as duas não dessem atenção às brincadeiras dos amigos.

Durante toda a sua existência a Maria das Dores só encontrou facilidades. Nascida em berço de ouro não se defrontou com dificuldades financeiras, nunca colocou um prego em uma barra de sabão. E a herança deixada pelos pais lhe permite levar uma vida confortável, sem necessidade de trabalhar, vivendo apenas dos rendimentos dos bens herdados. Durante toda a sua existência a Maria dos Prazeres só conheceu dificuldades, desde a mais tenra idade teve que se virar para conseguir o pão de cada dia, obtido com muito suor e lágrimas. Herdou dos pais algumas contas para pagar e as despesas com os seus funerais, dificultando ainda mais sua situação financeira.

Todavia, diante da vida as duas têm comportamentos bem diferentes. A Maria das Dores é uma pessimista, vive a se lamentar, é uma criatura rabugenta, as pessoas evitam a sua companhia. A Maria dos Prazeres é o oposto da outra, está sempre otimista, apesar das dificuldades enfrentadas. Devido ao seu espírito de luta e alegria de viver está sempre cercada de pessoas a lhe pedirem uma orientação para enfrentar os revezes da vida.

Duas Marias, dois destinos bem diferentes, duas lições a serem olhados por outros ângulos. Deixando de lado a visão financeira e examinando a vida de cada uma sob outros aspectos, bem mais ricos que o pobre aspecto financeiro, somos obrigados a reconhecer a sabedoria dos seus pais ao escolherem os seus nomes. Certamente receberam a ajuda dos anjos nesta tarefa.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, agosto de 2006.

 

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