A vida tem coisas difíceis de se entender. Hoje acordei com vontade de comer alguma coisa doce, fui até a geladeira e matei a vontade. Por um processo de associação que não sei explicar, senti saudades de uma criatura doce como os doces que ela fazia. Indaguei a mim mesmo a razão de ter me separado daquele ser tão doce. Foi um ato da mais pura insanidade, ditado pelo orgulho de não querer ser um peso morto na vida de alguém, devido aos problemas de saúde decorrentes do AVC. Depois não consegui consertar o que tinha feito.
Vieram à memória todas as dificuldades enfrentadas para readquiri os movimentos do lado direito do corpo, afetado pelo AVC. Os problemas de saúde me ensinaram muitas coisas, mas a principal delas foi ver os meus grandes defeitos e trabalhar arduamente para desarraigá-los de dentro do meu ser. Algumas amigas me dizem que nos dias de hoje eu sou uma pessoa bem diferente do que eu era antes do AVC. Não sou capaz de avaliar tais mudanças.
Estou passando um tempo sem manter relacionamentos amorosos, conhecendo melhor a mim mesmo. Estar sozinho tem sido um aprendizado fantástico. Nos primeiros dias de solidão estive a ponto de começar qualquer relacionamento para evitar ficar sozinho. Há pouco tempo quis reatar relação amorosa com duas pessoas que foram namoros recentes, mas elas já estavam envolvidas com outras pessoas. Outras mulheres apareceram sem a concretização de uma união. Entendi o recado da vida: ainda tenho de aprender muitas coisas antes de ser capaz de fazer uma mulher feliz e concretizar com ela uma união definitiva. Talvez já não haja necessidade de nenhuma união ou eu já esteja casado com a poesia.
A imagem dela volta à minha mente, lembro uma coisa interessante: por mais que eu tenha tentado não consigo fazer uma poesia para ela, embora ela tenha inspirado algumas poesias. Uma pessoa tão doce e até esta data não tinha escrito nada sobre ela, talvez alguns relacionamentos sejam mágicos e as palavras são muito pobres para descrever a magia existente nestas relações.
Hoje eu gostaria novamente de sentar com você na areia da praia, deixar as ondas do mar molharem nossos pés, jantar nas noites de domingo naquele restaurante, voltar para casa e comer um doce feito por você, dormir e acordar sentindo você ao meu lado. Desculpe por eu ter estragado a magia que existia em nosso relacionamento, este pecado eu carregarei comigo pela eternidade.
Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 24 de novembro de 2006.