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Crônicas

Despedida da Máscara

Vivo em tempo de despedida. De quem ou do quê me despeço? Do homem velho que existe dentro de mim desde a infância, nos últimos meses sempre jogo fora algo dele. Foram muitos e muitos anos de uma convivência que vai chegando ao fim. Lanço diariamente no arquivo morto as mazelas deixadas na alma por este homem velho. Infelizmente, não posso fazer o mesmo com as mazelas deixadas no corpo, nele estão registradas as sequelas do AVC, ficarão para sempre a me lembrarem de coisas que não devo repetir.

Adeus homem velho, é com alegria que me despeço de você. Durante anos você colocou no meu rosto uma máscara de pedra, aquela que é usada pelos seres que vivem sem emoções. E neste período encontrei mil justificativas para explicar o uso desta máscara. Foram tantas as justificativas inventadas que acabei acreditando nelas, apliquei em mim as técnicas usadas pelos nazistas e pelos partidos políticos: uma mentira repetida inúmeras vezes passa a ser vista como verdade.

O uso de máscara não permite relacionamentos verdadeiros e sólidos. Não permite que a outra pessoa veja a minha face, ela passa a conviver com a máscara, o que causa problemas quando a outra pessoa começa a perceber a máscara e a indagar: O que existe por trás desta máscara? Por que o uso da máscara? Devo conviver com uma máscara?

É necessário ter coragem para tirar a máscara. Não sei se conseguirei tirar totalmente a minha máscara, mostrar-me tal qual eu sou. Caso eu não consiga tirar o restante da máscara, peço a Deus a coragem de dizer às pessoas que convivem comigo: esta parte do rosto que você olha agora ainda está coberta pela máscara que uso desde a infância.

Necessito de força e de ajuda para arrancar o restante da máscara.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 3 de Fevereiro de 2013.
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