– Alo.
– Bom dia meu querido, diz uma voz feminina do outro lado da linha.
– Bom dia, responde uma voz masculina, tentando recordar quem era a dona da voz feminina do outro lado da linha.
– Há quanto tempo eu não escutava a sua voz, a saudade foi tanta que não consegui resistir, liguei para você assim que cheguei de viagem.
– Você ligou para o número errado, não conheço ninguém com este tom de voz e todas as pessoas que falam comigo sempre se identificam antes de iniciar a conversa.
– Quanta ingratidão! Passo uns dias sem falar com você e já não reconhece sequer a minha voz!
– A sua voz é inconfundível, doce e sensual, eu me recordaria de você caso tivesse escutado sua voz antes desta ligação.
– Você é tão galanteador, mas já está me aborrecendo com esta história de que não reconhece a minha voz. Eu viajei a serviço e estava sem grana para fazer ligação interurbana.
– Eu já lhe falei que não sou a pessoa que você procura, eu me chamo…
– Pare! Eu já estou ficando mais do que aborrecida com esta sua conversa. Devo lhe dizer que estou super-cansada, telefono para sairmos e você vem com este papo furado de que não me conhece. Seu comportamento neste momento é intolerável. Por acaso existem duas pessoas com o mesmo tom de voz? Eu reconheceria sua voz em qualquer meio de comunicação.
– Para me livrar desta conversa, que já está tomando muito tempo, eu poderia dizer que vamos nos encontrar no lugar de sempre, mas isto iria criar um problema para o seu namorado e eu não gosto de fazer isso.
– Você está querendo terminar o relacionamento e está fingindo que não me conhece? Eu pensei que você fosse um homem mais maduro.
– Quantas vezes eu tenho de lhe dizer que não sou o seu namorado? Você está me tirando do sério!
– Tudo bem Paulo, não mais insistirei em me encontrar com você.
– O meu nome não é Paulo, eu me chamo Antônio.
– O seu nome é Antônio? Então você não é o meu Paulo? Você é um tremendo cara de pau, fazendo charminho para me ver angustiada diante da ameaça de não me encontrar com o meu amor. Você é um monstro!
– Desde o começo da ligação eu avisei que a senhora ligou o número errado.
– Quando você me chama de senhora está insinuando que sou velha? Saiba que tenho vinte e oito anos de idade e aparento ter vinte.
– Ótimo, espero que continue sempre com uma aparência de jovem.
– Alto lá! Por acaso insinua que sou imatura e continuarei imatura?
– Eu não acho nada, não insinuo absolutamente nada, apenas desejo encerrar esta nossa conversa.
– Está me dispensando assim, sem nenhuma educação, depois de me fazer perder todo este tempo conversando com você.
– Peço mil desculpas, peço perdão se lhe ofendi. Divirta-se no encontro com o namorado. Boa tarde.
– Antes de desligar quero lhe dizer uma coisa: não faça mais isso com uma mulher apaixonada.
– Mas eu não fiz nada, você é que embaralhou tudo.
– Não acredito que você vai negar o que fez. Não ouse desligar o telefone, quero deixar isto bem claro na sua cabeça.
– Meu Deus, vai começar tudo de novo…
João Pessoa, setembro de 2008.