Procurando alguma coisa?

Contos

Página em Branco

− O que deseja que eu escreva, pergunto à Folha de Papel que está diante de mim, branca e imaculada.

− Eu nada desejo, responde a Folha de Papel, estou aqui para lhe servir. Descansava junto de minhas irmãs quando você me apanhou e me deitou nesta mesa. E aqui estou, pronta para registrar fielmente os caracteres que você escrever e que guardarei comigo, mostrarei apenas para quem me olhar.

− É verdade, o fato de você permanecer imaculada depende de mim e hoje estou sem inspiração. Estou tão sem inspiração que nem sobre esta falta de inspiração sou capaz de escrever. Não consigo ter uma ideia capaz de incendiar o espírito e ser transformada em algo que se possa ler.

− Não tem problema, estarei aqui pronta para registrar o que você escrever quando a inspiração chegar, diz a Folha de Papel.

− Esta sua passividade me irrita, você registra tudo o que escrevo sem reclamar, sem dar uma opinião, sem se interessar se está certo ou errado. Você apenas registra e guarda, sei lá por quanto tempo.

− É para isto que eu existo, apenas cumpro as tarefas para as quais fui criada, caso não agisse assim você seria o primeiro a reclamar.

− Não entendi.

− Vamos supor que você está com a cabeça cheia de ideias e me coloca na posição que estou agora, pronta para registrar suas ideias. Você pega a lapiseira e quer escrever, mas nesta hora eu me recuso a registrar as suas ideias, alego que estou indisposta ou registro apenas o que me agrada.

− Isto seria um absurdo! A sua tarefa na vida é apenas registrar os caracteres que alguém escreve, nada mais.

− E aqui estou pronta para cumprir minha missão, responde a Folha de Papel. Não sei por que razão você me fez aquela pergunta.

− Que pergunta?

− Você me perguntou o que eu desejava que você escrevesse.

− É que eu estava imaginando um mundo diferente, mas bastou esta conversa com você para entender que o mundo é como deve ser. Ufa!

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 15 de Outubro de 2013.
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