Depois do almoço saí do restaurante e caminhei pela orla marítima até o final da Avenida Rui Carneiro, local onde existe um ponto de táxi. Entrei no automóvel e iniciei uma conversa com o motorista, o Miron Caio. Ele me contou um fato que aconteceu quando ele era garoto, época em que o seu grande sonho era ter um caminhão de madeira, daqueles de puxar com um cordão, mas a sua família não tinha condição financeira para lhe dar.
Ele contou que certa manhã de Domingo a mãe dele deu ao seu pai, o Pedro, a quantia de doze cruzeiros e pediu para ele comprar carne para o almoço da sua numerosa família. Miron pediu para ir com o pai, segurou na sua mão e caminharam na direção do açougue. No meio do caminho o menino Miron viu um homem vendendo caminhões de madeira. Ele olhou enternecido para os caminhões, o que tocou o coração de seu pai, que lhe perguntou:
― Você quer um caminhão?
― Quero sim pai, mas o senhor não tem dinheiro.
― Tenho doze cruzeiros aqui no bolso, acho que podemos comprar.
― Mas este é o dinheiro da carne, lembra Miron ao pai.
― Você quer ou não quer o caminhão?
― Quero sim, diz Miron ao abafar a última resistência da consciência.
O caminhão custava quinze cruzeiros, mas o vendedor fez um desconto e Miron ganhou o tão sonhado presente. Ao retornar a sua casa ele correu para a mãe e mostrou o caminhão que o pai tinha comprado. Imediatamente a mãe pergunta se tinha sido com o dinheiro da carne e o pai diz que sim. Pergunto o que aconteceu, mas Miron desconversa e não conta o que a mãe disse para o pai por ter deixado a família sem carne no almoço de Domingo e durante a semana. Acho que não é necessário muito esforço para imaginar o que aconteceu…
Os anos foram passando, a criança transformou-se em adulto e o seu pai entrou na terceira idade. Algumas dificuldades levaram Pedro a atrasar o pagamento do INSS (ele també é motorista de táxi) e, no final da existência, teria problemas para se aposentar. Condoído com a situação do pai Miron tirou suas economias da poupança e as entregou para o pai, com a finalidade de pagar o INSS. Pedro pegou o dinheiro e saiu imediatamente de casa. Regresso poucas horas depois com um lindo relógio no pulso.
― Você pagou o INSS, indaga Miron.
― Não, confessa Pedro, comprei este lindo relógio que sempre foi meu sonho.
Miron fica irritado e chama o pai de irresponsável, ele baixa a cabeça e nada diz ao filho. Os anos passaram, Pedro fica doente. Miron vai visitar o pai e os dois conversam:
― Eu fui um bom filho para você, pergunta Miron a Pedro.
― Você sempre foi um bom filho para mim. Só fiquei magoado com você uma vez, foi quando comprei meu relógio usando o dinheiro que você me deu para pagar o INSS, ouvi de você muitas palavras duras.
― Você gastou com um sonho o dinheiro que garantiria a sua aposentadoria.
― Mas quando gastei o dinheiro da carne do almoço para realizar o seu sonho, você achou bom.
Marcos Antônio da Cunha Fernandes www.marcosfernandes.org João Pessoa, 3 de Fevereiro de 2013.