Procurando alguma coisa?

Crônicas

Apenas Jantar

Geralmente não janto, faço um lanche leve, mas naquela noite senti fome e resolvi sair de casa e procurar um restaurante. Era final de semana, dirigi-me até a praia e entrei em uma casa que costumava frequentar. Cumprimentei as pessoas que ali trabalham e escolhi uma mesa. Olhei o cardápio sem decidir o que iria comer. Um jovem casal entra e senta à mesa vizinha, o garçom entrega o cardápio e afasta-se um pouco, aguardando um sinal deles para anotar o pedido. Observo que os dedos dos jovens percorrem o lado direito do cardápio e olham um para o outro, depois se levantam e saem sem nada dizer. Não é a primeira vez que observo este fato, apesar de ser um restaurante para classe média.

Este acontecimento desperta minhas recordações do início da vida profissional na cidade do Rio de Janeiro, quando o salário de auxiliar de escritório dava apenas para jantar fora uma vez por mês, em restaurantes compatíveis com meu salário naquela época. Na passarela da memória desfilaram as recordações da minha trajetória de vida, um longo percurso.

Espantei as recordações e passei a observar as pessoas ao meu derredor e a imaginar quantas experiências ricas existiriam somente ali, ao alcance da minha curta visão. O pensamento travesso pula para os bilhões de seres humanos da Terra, uma riqueza inimaginável de experiências. Sinto uma vertigem diante da exuberância de apenas uma espécie de ser existente em um planeta de quinta grandeza. E indago a mim mesmo: quantas espécies de seres dos três reinos da natureza existem somente na Terra? E no sistema solar? E na nossa galáxia? E no universo? Sinto uma vertigem, volto minha atenção para o cardápio, chamo o garçom e peço o jantar, antes que os pensamentos me levem a delirar.

 

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 5 de Janeiro de 2013.
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