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Contos

João e Maria

João e Maria estão sentados na areia da praia. É noite de Lua Cheia, cujos raios dourados refletem-se na água do mar, um espetáculo belo que enternece os corações dos namorados. Maria gostaria de ter um diálogo mais aberto e franco com o namorado, falar do sentimento que os une, mas ele sempre se esquiva deste tipo de conversa. Apesar de já ter fracassado em várias tentativas, ela tenta falar com o namorado acerca do sentimento que une o casal.

– Os homens têm dificuldade de falar acerca dos seus sentimentos, desabafa Maria, atenta às mínimas reações do seu namorado.

– Não entendi o que você quer dizer, responde João. Você hoje está enigmática, fale de maneira clara e direta.

– Há quanto tempo nós namoramos?

– Mais de três anos.

– Três anos, seis meses e nove dias, coloca Maria. Neste período falei inúmeras vezes que amo você, mas nunca escutei você dizer que me ama.

– Vocês mulheres gostam desta bobagem de ficar falando acerca do que sentem. Não acho necessário dizer isto, você conhece o meu sentimento.

– Eu suponho que você me ama, apesar de alguns dos seus atos não demonstrarem isto. Falar para a outra pessoa que a ama não é bobagem, é abrir o coração, é abrir caminho para o aprofundamento da relação.

– Quais são os meus atos que levam você a duvidar dos meus sentimentos?

– Quando decidimos as mínimas coisas que vamos fazer juntos, você nunca procura saber o que eu gostaria de fazer. Sem me consultar você escolhe o que vamos fazer quando saímos juntos. Tenho uma parcela de culpa nisto, pois deixei você agir assim desde o primeiro dia do nosso namoro.

– Você hoje está complicada, coloca João, acho melhor ir para casa.

– Todas as vezes que quero conversar sobre a nossa relação você vem com algum argumento deste tipo. Por que razão nós não podemos conversar sobre este assunto? De que modo poderemos nos conhecer melhor? Por acaso, você acha que em um relacionamento o homem decide e a mulher diz amém?

– Até hoje vivemos bem sem este tipo de papo, responde João.

– Esta é a sua resposta para as perguntas que lhe fiz?

– Desde o primeiro dia do nosso relacionamento que ajo assim. Agora você deseja mudar a maneira de nos relacionarmos. Sempre agi do mesmo modo, mas nos últimos meses você quer mudar minha maneira de ser.

– Amo você e gostaria de aprofundar o nosso relacionamento, por este motivo insisto nesta conversa. Diga-me uma coisa: você pretende viver comigo debaixo do mesmo teto?

– Sim, já lhe disse isto.

– Dentro de poucos anos a atração sexual que nos une perderá a sua força. O que nos restará? O que manterá a nossa união? Você acha que o relacionamento entre um homem e uma mulher resume-se a sexo?

– Nós fazemos muitos programas juntos durante os finais de semana.

– Fazemos os programas que você escolhe, vamos para os lugares que você gosta de ir, saímos com os seus amigos. Quando nós vamos visitar alguma pessoa do meu relacionamento você demora pouco, inventa uma desculpa e saímos.

– Não gosto de alguns dos seus amigos.

– Também não gosto de alguns dos seus amigos, mas fico com você e não invento uma desculpa para cair fora.

– O que você pretende com esta conversa?

– Dizer a você que o amo muito, mas não estou disposta a continuar nosso namoro sem que haja mudança na maneira de nos relacionarmos. Pensei muito sobre o assunto e cheguei à conclusão de que nossa convivência debaixo do mesmo teto não teria chance de dar certo. Dentro de poucos anos estaremos separados.

– Então é melhor encerrarmos nosso namoro agora, coloca João. E se retira de maneira rude, sem dizer mais nada. As lágrimas rolam pelo rosto de Maria. Ela o conhece bem e sabe que ele não tomará a iniciativa de reatar o relacionamento. Ela fica a se indagar se agiu da maneira correta. Depois de refletir bastante chega à conclusão que apenas antecipou um evento que ocorreria após alguns anos de vivência debaixo do mesmo teto. Maria respira profundamente e vai para casa (*).

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, Setembro de 2010.

 

(*) Este conto contém trechos de um diálogo que escutei de um casal, na calçada da praia de Tambaú. Sempre tive um profundo respeito pelos seres humanos que amam e confessam seus sentimentos. Não tenho em boa conta os seres humanos que não são capazes de confessar os seus sentimentos.

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