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Crônicas

Recordações

As recordações dos meus pais, já falecidos, surgem na cabeça e no coração. Lembro das conversas de botequim com o meu pai, dos seus carros velhos, do seu tino comercial, do seu relacionamento com meus filhos, das suas cantorias nos finais de semana, depois da terceira cerveja. A figura da minha mãe aparece com ternura, as conversas nos finais de noite, sua imensa garra nas dificuldades enfrentadas pela família, os pratos deliciosos que preparava para nossas refeições. Hoje as saudades deles estão machucando o coração.

As recordações continuam a desfilar na tela da memória, parece até que é a hora da saudade. As imagens muito amadas dos filhos e netos surgem em cores vivas e vibrantes, inundam o coração de ternura. Não sei se dou a eles o amor de pai e avô que desejam receber, mas sei que recebo deles muito mais do que espero, eles inundam a minha alma de amor e poesia. Surgem recordações das minhas irmãs e sobrinhos, os momentos agradáveis que já desfrutamos juntos, as viagens que já fizemos.

As recordações dos amigos e colegas surgem desde o tempo que me permiti fazer o primeiro amigo. Perdi o contato com alguns, outros faleceram, poucos ainda mantêm relacionamento através de visitas ou da Internet. Lembro dos “assustados” e das festinhas que íamos juntos, as primeiras paqueras, sair do colégio e ficar na Praça da Independência vendo a saída das “Lourdinas”, as “peladas” na praia, os campeonatos de futebol no colégio.

As recordações vão seguindo seu curso e vão buscar lá no fundo do baú as lembranças da minha primeira professora, os seus cabelos grisalhos presos por uma fita, seu semblante sempre severo, a palmatória pendurada na sala improvisada na garagem da sua casa. As salas de aula de João Pessoa, do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte desfilam pela memória, recordo os meus professores com carinho. Vez por outra eu encontro com algum deles pela cidade ou na praia, é sempre bom rever os que nos ensinaram algo.

Recordações pálidas das mulheres que amei desfilam pela minha cabeça, nãopedem licença, vão entrando sem serem convidadas e sem fazer a menor cerimônia remexem nos meus sentimentos, mas o fogo já está apagado. Da pira cheia de cinzas, onde foram incineradas as vivências amorosas do passado, as recordações tentam ressuscitá-las, mas elas não têm mais o brilho e a alegria dos momentos em que estavam vivas. Hoje são apenas cinzas que agora jogo ao vento para serem espalhadas no vale das recordações.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 31 de agosto de 2007.
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