Alguns olhos são indiscretos, eles revelam o que se passa na alma, não escondem nada de quem os observa com atenção. Tais olhos revelam, sem a menor cerimônia, o que se passa no espírito e no corpo. Alguns olhos são enormes e dão a impressão de querer pular do rosto, enquanto outros são tão pequenos que mal conseguimos vê-los. O tamanho dos olhos não influencia a capacidade de enxergar as coisas essenciais da vida, para isso é necessário ter “olhos de ver”, somente possuídos pelas crianças de todas as idades.
Olhos quentes e convidativos acendem a chama do desejo, enquanto olhos frios e indiferentes apagam a chama do corpo. Alguns seres humanos sabem enfeitiçar com o olhar, hipnotizam as suas presas e as devoram com facilidade. No outro extremo desta escala existem seres humanos cujos olhos são inexpressivos, seu olhar é semelhante ao de um peixe morto, embora o peixe, mesmo morto, tem os olhos mais expressivos, o peixe morto parece vislumbrar o que existe depois da morte.
Os olhos dos que se assemelham ao olhar puro de criança são inquietos, procuram algo, descortinam horizontes esquecidos pelos adultos. Poucos adultos conservam no olhar a vivacidade do olhar da criança, nós deixamos a nossa criança ficar em estado de coma. A criança tem olhos de ver a vida, ela enxerga o que um adulto nem percebe, pois nós adultos perdemos a capacidade de ver a magia das coisas do dia-a-dia. Depois de certa idade algumas pessoas vivem os vôos das suas existências como se estivessem com o piloto automático ligado, elas dão a nítida impressão de que não estão interessadas em saber para onde vão, para onde as suas atitudes conduzem os barcos das suas vidas, deixam ao vento a tarefa de conduzi-las.
Algumas pessoas dizem que os olhos são os espelhos da alma, então nós chegamos à conclusão de que existem muitas almas apagadas, sem nenhum brilho. Os olhos de uma pessoa contagiam todo o corpo de outra pessoa. Estar junto de uma pessoa cujo olhar é cativante, é bem diferente de olhar para os olhos de uma pessoa cujo olhar é do tipo peixe morto.
Alguns olhos são amorosos, temos vontade de abraçá-los; outros são odiosos,desejamos estar bem longe deles. Olhos que vêem o que não existe, olhos que não vêem a realidade. Olhos discretos como um frade beneditino, olhos indiscretos como uma prostituta. Olhos lesos não vêem o que devem ver, olhos neuróticos vêem o que não existe. Olhos de todas as cores e de todos os tamanhos formam combinações fantásticas, capazes de atender a todos os gostos. Existem pessoas que não gostam de olhar nos olhos, perdem os momentos mais ricos na vida de um ser humano.
João Pessoa, 5 de julho de 2007.