Procurando alguma coisa?

Crônicas

Mudança de Ano

O silêncio humano estende o seu manto sobre a cidade depois de uma noite de comemorações para festejar a chegada de um novo ano. O sol já está alto, mas as ruas da cidade estão desertas, apenas os pássaros e os insetos cantam e saúdam o primeiro dia do ano de 2008, como eles fazem todos os dias de suas vidas com a mesma alegria e entusiasmo, do primeiro ao último dia das suas vidas. Neste primeiro dia do ano algumas promessas de mudanças de vidas continuarão firmes nas vontades de poucas pessoas quando elas despertarem. Muitas pessoas, apesar das promessas e juras, acordarão para repetirem as vidinhas de sempre, as promessas e juras de mudanças apagaram-se com a virada do ano, morreram com o ano velho.

No almoço muitas famílias comerão o que restou do jantar preparado para o último dia do ano, beberão as garrafas de bebida que sobraram da noite anterior. Uma parcela significativa aproveita as férias escolares dos filhos e também tira férias do trabalho e busca as cidades litorâneas para descansarem das lutas do ano que se foi. Para algumas pessoas foi um ano de vitórias, com muitas coisas para comemorarem. Para outras pessoas foi um ano amargo, com muitas derrotas a serem esquecidas, depois de analisadas as suas causas e aprendido as lições propiciadas pelos erros cometidos, quando conseguem ter calma e lucidez para isto.

Examino o ano que passou e vejo que eu continuo a cometer os mesmos erros dos anos anteriores, quase nada consegui mudar. Como é difícil modificar hábitos arraigados, eles não são erradicados apenas com o nosso desejo de mudar, é necessária uma ação concreta. Eu fico apenas no desejo, não parto firme para a ação, o resultado é a continuação das situações que desejo mudar. E no balanço das minhas ações, realizado no final do ano, a constatação de que os defeitos são maiores do que as qualidades, eu fico no vermelho mais uma vez, repito as mesmas promessas dos anos anteriores, “careca” de saber que não vou cumpri-las.

O que precisa acontecer na minha vida para eu realmente mude? É verdade que o AVC provocou algumas mudanças no meu modo de ser, mas muitos hábitos estão arraigados no imo do meu ser, não consigo desarraigá-los. No limiar de um novo ano uma única coisa eu suplico à Vida: não se apague o pouco que me resta da visão doolho direito. Eu não assimilo bem quando escuto um texto, necessito ler para entender, em outras palavras: eu sou “leitor” não sou “ouvinte”. Por esta razão eu agradeço todos os dias do ano esta benção de ainda existir um pouco de visão para a minha alma entender o que as outras pessoas dizem e poder dizer o que sinto através da escrita. E por esta réstia de luz que me permite escrever e ler, eu quero iniciar o ano dizendo: OBRIGADO SENHOR!

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 1 de janeiro de 2008.
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