Sedento e castigado pelo sol das provações um viajante segue pela estrada, caminha à procura de uma fonte de água capaz de aplacar a sua sede interior. Aquela estrada oferece comida para saciar o corpo, mas ele deseja água para saciar a alma sedenta. Muitas estradas ele já tinha percorrido e de muitas comidas tinha provado, saborosas algumas, insípidas outras, mas as águas que ele tinha bebido, apesar de serem puras e cristalinas, não saciaram a sede da alma.
Depois de muito caminhar o viajante senta debaixo de uma árvore, abrigado do sol do meio-dia, ali adormece e sonha. No seu sonho ele se vê vestido com uma roupa belíssima, caminha por uma estrada que reconhece como a estrada da sua vida. Quando olha para trás vê os caminhos já percorridos, mas quando tenta voltar ele percebe que não consegue retornar na estrada do tempo, apenas pode caminhar para frente. Ele fica sentado à beira da estrada, triste e cabisbaixo, procura descobrir uma maneira de voltar e apanhar coisas deixadas para trás, dizer de maneira diferente palavras ditas irrefletidamente, dar algumas coisas negadas, negar algumas coisas que tinha dado sem refletir ou desejando não dar. Ele percebe que uma pessoa senta ao seu lado, é um ancião de barba branca e fisionomia serena. O ancião olha para ele com carinho e pergunta:
– Por que você está triste?
– Queria voltar pelo caminho já percorrido e fazer de maneira diferente alguns atos praticados por mim, ter outras atitudes com algumas pessoas que conviveram comigo.
– Estas são intenções belíssimas, mas ninguém pode voltar pela Estrada da Vida, nela só se caminha numa única direção. Os caminhos já percorridos no tempo são lições ensinadas pela Vida e servem para nortear o restante do caminho a percorrer, mesmo quando não aprendemos as lições necessárias para a nossa evolução como ser humano.
– Então eu não tenho como corrigir meus erros, pergunto ao viajante.
– Quando digo algo que magoa uma pessoa não tenho como “apagar” as palavras ditas. Todavia, posso pedir perdão a ela pela maneira ríspida como a tratei e não voltar a repetir o mesmo comportamento com ela ou com outras pessoas.
– Eu fiz tantas coisas de maneira equivocada, magoei tantas pessoas com palavras e comportamentos.
– Você ainda magoará muitas pessoas, mesmo não querendo. O importante é aprender a reconhecer quando ofendemos o próximo, pedir desculpas e não voltar a repetir o mesmo comportamento que a nossa consciência aponta como ofensivo.
– Caso a minha consciência não aponte uma atitude minha como ofensiva, mas uma pessoa se sente magoada com ela, eu terei cometido uma falta de respeito com ela?
– A sua intenção é a chave da questão, você não sabia que ela se ofenderia com o seu comportamento. Entretanto, desde o momento em que sabemos como uma pessoa reage diante de determinado ato ou palavra e usamos isto com a intenção de ofendê-la, estamos agredindo a Lei, que pode ser resumida em uma única palavra: Amor.
– Como eu vou saber se uma coisa vai ofender aquela pessoa?
– Quando não sabemos se um ato ou palavra vai ofender uma pessoa, devemos nos comportar exatamente da mesma maneira que gostaríamos que ela se comportasse conosco. Esta é a Lei.
– Vamos supor que eu desconheça como uma pessoa reage diante de determinada situação e pratique um ato entendido como agressivo por esta pessoa. Como a minha intenção não era ofendê-la, neste caso eu não agredi a Lei. É isto o que você está querendo me ensinar?
– Este é o espírito da Lei, responde o ancião, levantando-se para partir.
– Eu estava tentando voltar no tempo e fazer de maneira diferente algumas coisas.
– Você não poderá voltar no tempo e fazer as coisas de maneira diferente, mas poderá fazer de maneira diferente as coisas que ainda acontecerão.
O viajante acorda sereno e alegre. Depois de meditar sobre o que tinha sonhado o homem levantou-se, orou agradecendo as lições recebidas e seguiu seu caminho. Vai relembrando as lições aprendidas, pretende colocá-las em prática. Depois daquele “sonho” ele sente o coração aliviado. Sabe que ainda cometerá muitos erros, mas terá sempre a oportunidade de corrigi-los. Passou a ver nos seus erros lições preciosas a lhe propiciarem a oportunidade de corrigir sua maneira de pensar, falar e agir.
João Pessoa, outubro de 2007.