Só me dei conta de que poderia sofrer dessa disfunção quando já estava no final dos sessenta anos e com os cabelos bem grisalhos (desculpem-me as moças de minha faixa etária, mas acho lindo ter cabelos brancos). São vários os sintomas:

a)       Notei que, quando chegava ao Banco, o vigilante se adiantava para obter a senha de “clientes especiais”, e me entregava dita senha não sem antes me dar instruções detalhadas de como sentar e esperar – olhando sempre para a telinha, onde apareceria aquele número; isso em voz pausada e em tom pouco mais alto do que o que usava antes de falar comigo;

b)      Os vendedores de lojas de eletrodomésticos sempre me mostram os aparelhos mais fáceis de manejar, e insistem que a loja não cobra juros nas compras parceladas em até doze vezes (Papai Noel existe!!!!!!!) e, portanto, não poderiam dar desconto em compra à vista; ficam muito ressabiados quando eu exijo chamar o gerente, para explicarao pobre coitado que o Código do Consumidor veda a propaganda enganosa;

c)      Os vendedores de lojas de eletroeletrônicos tomam um susto quando ouvem as especificações técnicas do computador que quero, e já ouvi perguntas do tipo “Para que a senhora precisaria de uma capacidade de armazenamento de mais de 500 megabytes?”, ou “Não é melhor um aparelho mais simples?”.

Estou relatando apenas aquelas situações que não chegam a serem constrangedoras, apenas chatas.  Mas aí me dou conta que na nossa cultura o pobre ser vivente que alcança – e ultrapassa – a casa dos sessenta anos, é encarado como se necessariamente perdesse a capacidade intelectual, totalmente ou, se tiver muita sorte, em parte.  Só não existe, ainda, um calendário preciso, mas podemos tentar: por volta dos sessenta e cinco, o seu cérebro encolhe (assim, de uma vez) cerca de um terço; aos setenta, metade dos neurônios restantes se fritam espontaneamente.  Faz sentido, não faz?

Deve ser por isso que Ministros do Supremo saem da ativa compulsoriamente ao completar setenta anos…

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