Eu tenho asas,como de borboletas
Presas em casulos,ocultas nas minhas costas.
Nunca as deixei eclodir,espreguiçar,
Secar ao vento e o deixar levar.
São asas inúteis que incomodam porque estão maduras
Querem nascer explodindo em prata e azul celeste
Em fogo e em noite pontilhada de estrelas.
Mas estão contidas, retidas pela proteção do medo.
O medo é como o carinho frio
Que faz dormir um sono intranqüilo,
Que faz viver uma vida infrutífera,
Mas que protege da dor.
O que será de mim se descolar do chão que é apoio?
Será que me perco e sou queimada junto com o joio?
E se com o vento dançar um tango apaixonado
E lá nas nuvens galopar em pensamento desenfreado
E amar o que é desconhecido
Engravidar de tudo que é maravilhoso
Será que voltarei para casa?
Ou se no vôo abraçar um espinheiro
E deitar em cama de brasa incandescente?
Se for ferida onde a dor é mais pungente
E sangrar em golfadas o sangue limpo das
artérias e for marcada como gado de corte?
E se assim voltar para casa rasgada e massacrada
Será que serei aceita?
Mas agora minhas asas crescem para dentro
E os pulmões reclamam a falta de ar
E cuidando somente dos ataques externos
Eis que a guerrilha entre o ser e parecer
Entre assemelhar e extrapolar
Embota meus sentidos.
Sinto-‐me fraca e vulnerável.
Tenho medo.
Tenho muito medo de onde o meu desejo
Pode me levar.
Tenho medo.
Tenho muito medo de quanto o meu limite
Pode me matar.
Não sei das coisas que hão de ser,
Mas não quero voltar atrás
Porque minhas asas querem nascer
E eu quero aprender a voar.