Procurando alguma coisa?

Obras de Amigos

Eu sou ISSO, e você? – Alexandra Josias

Não tenho autoridade nenhuma pra lhe dizer o que eu vou falar agora. Mas nós estamos em “dois mil e dose”, vamos lá, pode ser o fim do mundo, então eu vou falar o que me der na veneta.

E se for mesmo o fim da experiência humana no Planeta? Ou se for só o fim de uma prisão horrível, em que consciências ilimitadas e multidimensionais andaram vagando, por mais de duzentos e cinquenta mil anos, por conta de uma espécie de lavagem cerebral cósmica, em que fomos levados a acreditar que somos essa merda toda que acontece aqui, limitada, cíclica, a Roda de Samsara, acorrentados por eras e eras entre as densas paredes do que acreditamos ser “bem” e “mal”?

E se for? E se o mundo não acabar só lá pra vinte e um de dezembro? E se acabar – vamos apenas supor – no máximo até o meio deste ano?

Convenhamos, até que não seria nada mal eliminar de vez as famigeradas férias de julho, em que você não sabe ao certo o que vai fazer com seus filhos: se os leva pra consumir pacotes de ideologia yankee com direito a um certo glamour e um calor de matar, ou se paga mais caro pra conhecer seu próprio país e dar a seus herdeiros alguma noção de diversidade e civilidade brazuca…

E se for o fim da matriz, sem nenhum Neo pra salvar um mundo que, sinceramente, poucos sonhadores ainda acham que tem jeito?

E mesmo se não for. Que papel no grande teatro você desempenha exatamente agora?

Parece que o Dalai Lama disse que “só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã”. Portanto, segundo o CEO do que resta de supostamente autêntico no Tibet, “hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver.”

Pois é… Quem sou eu, diante da sacra autoridade do Dalai Lama, ou do Papa? Ninguém e nada, decerto.

Mas como dois mil e doze está aí, e eu não estou nem aí, vou ousar discordar da sacra autoridade do Dalai Lama (que, seja lá como for, ainda fala coisas bem mais interessantes do que o ocupante do trono dourado da Cadetral de São Pedro, com todo o respeito à origem do cristianismo, que nada tem a ver com qualquer religião cristã de hoje, e Deus salve os evangelhos coptas e os manuscritos do Mar Morto).

Hoje não é o dia certo para amar. Nem para acreditar. Nem para viver, no sentido do que estamos acostumados a viver. Muito menos para “fazer”! Hoje é o dia certo para SER.

Heloooo! estou falando de hoje, hoje mesmo, agorinha, now. Seja lá qual for o dia em que você acabar lendo essa baboseira. Pode ser em 2012. Pode ser em 2016, no meio das Olimpíadas do Rio, com direito a show de fogos na Rocinha. O que eu quero saber, e a torcida do Flamengo não pode calar, é, precisamente: quem é você, para você mesmo?Vou repetir, ok? Quem é você, lá dentro de você?? Tipo assim, no coração, brother, sister, cousin, mamma.

Não adianta pedir a ajuda dos universitários, nem sacar do seu lindo iPhone de quarta geração pra dar uma googlada escondida no banheiro. Xi! Se perdeu, hein?

Pois se você acha que você é esse cara bacana, que chegou aos quarenta quase sem cabelos brancos e com uma barriga de tanquinho, peeeeiiinnnn, você errou! Se você tem certeza de que está muito melhor do que suas (antigas) colegas de primário, porque ainda tem músculos nas coxas mesmo tendo parido dois filhos e se mantém ocupando aquele cargo executivo que não lhe dá tempo pra malhar, nem pra transar com seu marido quase sem cabelos brancos e com uma barriga de tanquinho, peeeeiiiinnn, dançou também!

Ah, tá. Você não dá a menor importância pra nada disso. Na verdade, é um (ou uma) intelectual, que até deixou crescer a barriga, mas nutre o cérebro como ninguém, relendo Neruda e lendo a revista Piauí, e apoiando o Wiki Leaks e a Peta… E só frequenta as festas mais descoladas da cidade, seja no Rio, ou em Berlim, ou em Cannes, ou na Vivendo, ou no Village. Sei, sei. Quer dizer que a sua essência é isso. Entre um corpo vaidoso e um cérebro vaidoso, optou pelo cérebro. Entendi. Legal, legal. Mas qual é, de verdade, a grande vantagem? Porque os dois vão ter o mesmo fim, seja lá qual for o fim que você escolher: enterro tradicional, pira viking, cerimônia wikka em Avenburyhenge, virar diamante no anel de sua saudosa e feliz viúva…

Não, coisa fofa, eu não quero começar o ano bancando a estraga-prazeres, só porque seu reveillon foi o bicho e você pulou sete ondinhas e beijou na boca do jeito que queria.

Aliás, eu não quero nada. Só me deu vontade de “falar”, e pronto. Sim, coisa fofa, eu quero saber o que você realmente pensa que você é.

Você acha mesmo que sua linda pessoa consiste na sua carteira de identidade, no seu CPF, ou, pior ainda, na sua conta bancária?

Você acha que está confinado ou confinada à herança do DNA de seus pais?

Acha que precisa repetir a barriga do seu avô antes dos 50, ou a balaiage da sua mãe depois dos 40?

Mas que belo destino você traçou pra si mesmo ou si mesma, hein?!

Pior é que julho de dois mil e doze – e não dezembro, em nossa tresloucada hipótese – vem aí, e você nem ao menos sabe a que veio…

Calma. Ainda há tempo. Respire e relaxe. Pronto, acabou. Como?? É só isso? Sim, coisa fofa, é apenas e tão somente isso.

Quantas vezes, no ano passado, você parou, respirou e relaxou? Quantas vezes você conseguiu parar de pensar, parar de planejar, de projetar, de ambicionar, de desejar, de depreciar, de criticar, de julgar, de racionalizar, de sublimar, ou de qualquer outro verbo que indique ação, para apenas e tão somente SER? Quer que eu ajude a contar? Zero! Noventa e nove por cento de certeza de que foi ZE-RO!

Então, vamos lá. Escolha aquele momento em que você pode estar consigo mesmo/consigo mesma. Pode ser dentro do banheiro na hora do “número dois”, ou depois que o falecido vier buscar as crianças para o passeio ao zoológico, ou dois minutos antes de cair naquele sono provocado por oito taças de espumante… Ninguém está julgando você. Sinceramente, tanto faz. Respire, relaxe e busque o seu coração.

Vamos esclarecer. Não estamos falando daquele músculo que pulsa ligeiramente à esquerda. Busque o coração que é o centro do seu SER. Respire, relaxe. Respire, relaxe. Respire, relaxe. Agora, ouse um pouco mais. Tente respirar como se fosse ele, o coração e não o pulmão, que realmente respira. E tente entrar em contato com aquilo que se manifesta ali, nesse breve momento – no trono, no cochilo, no silêncio sem as crianças, no minuto entre a tontura do pileque e o adormecer.

Pode ser que você encontre alguma coisa. Não vai ser nada familiar, devo advertir. Talvez você tenha a sensação de que parou de respirar, mas que por algum milagre continua a viver. Talvez você comece a ouvir um zunido em um ou em dois ouvidos. Bem, pode não ser um zunido. Pode ser um tam-tam-tam, feito um tamborzinho. Ou você pode ouvir sinos, ou um coro mais bonito do que o dos meninos de Curitiba. Ou talvez você tenha a estranha convicção de que seu coração acaba de entrar no modo vibracall.

Não importa o formato. Nem se é por um segundo, por horas ou por anos. Se eu, que não sou o Papa nem o Dalai Lama, já consegui, você também tem a possibilidade e a capacidade de entrar em contato com ISSO.

ISSO que é você, que é o universo e que somos todos nós. Isso que nos vivifica, nos unifica e nos fortalece. Isso que nos alegra e que nos conforta. Enfim, é ISSO que importa. É muito mais fácil do que parece, e eu desafio você a tentar. Desafio porque sei que quem tentar, mais cedo do que tarde, vai conseguir.

E se o mundo começar a mudar, estranhamente, à sua volta, como se tudo entrasse em ressonância… faça-me o favor de aceitar as dádivas, em vez de ficar questionando como foi possível ter tanta sorte de repente.

Então, Feliz Ano Novo, feliz sensação nova, feliz novo pulsar, feliz comunhão nova. E depois não diga que eu não avisei. Mesmo porque quem avisou, na verdade, não fui eu. “Vocês estão nesse mundo, mas vocês não são desse mundo.”

Beijo, A.

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