Era uma segunda-feira como outra qualquer. Desci ansioso para ver o jornal mais lido em João Pessoa, pois havia ganho uma final do campeonato paraibano, no sábado. Sabia que sairia uma reportagem a respeito do jogo neste jornal. Quando abri a página de esportes, tinha só a reportagem com o título “LAVOISIER É O CAMPEÃO”. Estranhei não haver nenhuma foto!
Quando folheei o jornal, para meu espanto, vi minha foto na página policial. Eu com uma raquete na mão, e embaixo da foto os dizeres: “JURACIR: CHEFE DE GANG PRESO EM SALEMA”. Quase caí da cadeira! Haviam trocado, por “engano”, minha foto!
Naquele dia não tinha condições psicológicas para ir para o colégio. Estava realmente em pânico. Não sabia qual repercussão aquele engano poderia causar, naquele momento, em minha vida! Num caso desses, você só espera o pior.
Fiquei em casa, aguardando noticias. Elas vieram depois do horário da escola. Doda chega lá em casa por volta do meio dia. Ele já veio dizendo: – Olha o que arrecadei com essa história. Mostrando um maço de notas pequenas. E continuou: – Espalhei na sua sala que você estava realmente preso, e que sua família estava surpresa com a notícia. Que eles não estavam lhe dando a devida atenção! Pedi uma contribuição para comprar algumas coisas para você numa mercearia. Vamos aproveitar esse dinheiro para almoçarmos no Elite (restaurante mais caro, na época)!
Naquele momento, não tinha muito o que fazer: topei na hora! Depois conversaria com meu pai para tentar consertar as coisas. Passou pela minha cabeça o medo de viajar para o interior do estado, pois eles poderiam me reconhecer pela foto, como um marginal fugitivo. Soube que outro engraçadinho comprou uma porção de jornais, e saiu pregando nos corredores dos colégios.
Na mesma hora me lembrei de Irmão Rodrigues. Ele, vendo o jornal, deve ter pensado como fez bem ter me expulsado. Sua consciência ficou aliviada, e ele deve ter dito: – Olha como fiz bem ter colocado esse rapaz prá fora do colégio. Que pena! Um menino de tão boa família…
Minha primeira reação, depois do almoço, foi procurar pelo meu pai para saber que atitude tomar num caso desses. Um processo por danos morais, talvez. O doutor, com sua experiência, foi contra e disse o por quê: – Tinha um amigo chamado José Costa num excelente cargo. Na hora de digitar seu nome, houve um engano. Trocaram o “c” pelo “b”, ficando José “Bosta”. Seu amigo pediu uma retratação imediata, etc. E o jornal começou: “ Pedimos desculpas ao renomado senhor José Costa, pelo nosso erro de ontem. Onde se leu “José Bosta, leia-se José Costa. Mesmo por que é fácil trocar Costa por Bosta, pois as consoantes são bem próximas na máquina, separadas apenas pelo “v”.”
Desisti na hora de fazer qualquer coisa. O jornal colocou, no outro dia, uma foto bem maior no lugar correto. Nada falou a respeito do equívoco! O restante o tempo se encarregou de apagar. Como eu sempre digo: “…no final tudo vai acabar bem. Se não está bem agora, é por que não estamos no final!”