Eu me escondi dentro de uma redoma.
Dancei valsas infinitas
Em rodopios lentos
Do topo de uma caixinha de música.
Olhei pelas lentes de vidro
E vi o mundo girando calmo e sonolento.
Eu me deixei colocar cabresto.
Galopei em círculos concêntricos
Montada por uma criança
Ao som do mesmo estribilho
Num carrossel de brinquedo.
Senti cheiro de pipoca doce
E as luzes do parque eram minhas estrelas.
Dormi um sono esquisito:
Sonhei que construía muralhas,
que viraram poço,
e no fundo estava eu
com os pés molhados,
que viraram raízes
de uma árvore de plástico.
Acordei de sobressalto
Meio que sufocada,
Meio que descompassada,
E no meio da noite
Senti frio e solidão
E senti-‐me oprimida pela imensidão
Sem fronteira e sem amparo.
Viva a dor!
Viva a dúvida
e o desespero!
Viva a insegurança
e o abandono!
Viva o medo!
Viva em mim
toda essa baderna!
Porque eu quero viver de verdade.