Procurando alguma coisa?

Obras de Amigos

Amiga Oculta – Maria Alice Fernandes

Alguns dos nossos amigos comuns vão certamente desconfiar de quem se trata, mas vamos “ocultá-la” mesmo assim. Porque já passei pelo que você está passando, essa privação de um ser muito amado, que desaparece de repente das nossas vidas. Não importa se o “de repente” se refere a segundos ou meses, ninguém nunca está suficientemente preparado para o vazio que vem depois. Mas nós – as mulheres fortes – resolvemos preencher tal vazio nos dedicando freneticamente a tudo que está ao alcance: filhos (não importa a idade deles), casa (nunca, em tempo algum, foram feitas tantas faxinas em tão curtos espaços de tempo), trabalho (aceitamos todos os desafios, ainda melhor quando dizem que é tarefa impossível de realizar).

Vale tudo, contanto que a gente não tenha condições de sentir falta do parceiro. Tempos se vão nessa ciranda enlouquecida, até que um dia você se dá conta: ele não vai voltar. Então, amiga, você xinga O de Lá de Cima, sai e come cinco quilos de chocolate em dois dias, ou toma um pileque tão formidável que seus parentes e amigos acham que você endoidou de vez. Mas não ligue para eles não. É sinal de que você está começando a aceitar e se curar dessa “falta de” que você nem sabe exatamente de que. E que eu chamo de “falta de complemento”.

Vocês dois eram “complementares”, sem dúvida. Na vida amorosa, no campo intelectual, na distribuição de tarefas familiares. O que não quer dizer que a vida a dois transcorreu sempre como barquinho navegando nas águas serenas de um lago raso, o que seria de uma mesmice atroz, incompatível com a inteligência, interesses e temperamento de vocês.

 E depois do reconhecimento da dor, amiga, vem a tomada de decisões: o que quero fazer da minha vida daqui por diante? Sou uma mulher jovem (idade cronológica não tem nada a ver com isso), sou bonita (e você é, muito bonita) e inteligente (não há dúvidas ou divergências a esse respeito): vou aceitar que a vida me apresente um novo parceiro – e ter a decência de não compará-lo com aquele que se foi –, ou vou me dedicar a outros interesses, fundar uma ONG, continuar a dar aulas, entrar para um grupo de teatro amador, fazer pesca submarina, aprender a tocar violino?

 Faça o que achar melhor para você. E conte com os amigos.

 Fortaleza, 21 de outubro de 2013.

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