Surpresa
― O que você está fazendo, pergunta uma voz bem perto de mim.
Após o susto inicial, olho derredor, depois eu percorro o apartamento e certifico-me de que estou sozinho. Retorno ao computador para continuar a revisão de uma poesia, interrompida ao escutar a voz.
― Por que não fala comigo, estou sentada no lado esquerdo do teclado do computador, volto a escutar.
― Ah, desculpe-me, respondo após um novo susto e ter identificado a dona da voz. É que até hoje não tinha encontrado uma formiga falante.
― Vocês humanos acham que os animais não têm sentimentos e são incapazes de entrar em contato com uma pessoa. Nós temos a nossa maneira de falar e tentamos aprender a sua linguagem para ensinar muitas coisas a vocês.
― Que coisa um animal pode ensinar a um ser humano?
― O respeito à Mãe Natureza. Ela criou o ser humano, depois de ter criado todos os outros seres. Nós somos mais velhos, mas vocês não nos respeitam.
― Somos mais novos e mais inteligentes, coloco para a formiga.
― Quanto a ser mais jovem não resta a menor dúvida, todavia, quanto à inteligência eu tenho minhas dúvidas.
―Por que você diz isso?
― Você já viu um animal, chamado injustamente de irracional, destruir a Mãe Natureza?
― Não.
― Quantas agressões à Mãe Natureza o ser humano comete todo dia?
― Impossível quantificar, respondo envergonhado.
― Estas agressões estão destruindo nosso planeta. Cabe então a pergunta: Por que você dá a si o título de animal racional?
Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 5 de Março de 2013.