Faz tempo que o vento não traz uma folhinha através da minha janela e acende a chama da inspiração. Por que as folhinhas deixaram de me visitar? Hoje seria um dia ideal para uma delas inspirar a minha alma que está tão vazia, sem alento. Hoje eu gostaria que uma folhinha passasse o dia comigo e me inspirasse o verso.
Os passarinhos deixaram de me visitar e cantar no meu terraço, apenas escuto os seus cantos nas proximidades, sem conseguir localizá-los. Ocorreu alguma mudança não percebida por mim ou eles acharam que não sou digno de receber suas visitas? Seria o ato de receber tais visitas diretamente subordinado ao estado de espírito do ser humano? Caso isto seja verdadeiro, quantas coisas eu não escuto por não atingir determinados estados de consciência? E o que devo fazer para alterar meu estado de consciência?
Até a alma penada deixou de aparecer nos meus sonhos e espero que continue assim, ela é uma chata. Não sei qual é o local onde ela deve ficar, mas certamente não é nos meus sonhos. Não vamos falar dela, já pensou se ela escuta, vem saber a razão de estarmos invocando o seu nome e resolve passar algum tempo comigo. Vamos mudar rapidamente de assunto!
As saudades dos amores do passado não mais me visitam. Mas não são apenas as saudades que deixaram de aparecer, as mulheres, causas provocadoras das saudades, há muito que não me visitam. Sem serem alimentadas as saudades morrem e são enterradas no cemitério das recordações. Resta-me apenas o consolo de visitá-las no dia de finados.
Nas noites de chuva a rua tem ficado deserta, ninguém a caminhar na chuva, a rua está escura e silenciosa. Nenhum ser humano para preencher o vazio da rua, nem sequer um gato ou um cachorro para vasculhar as latas de lixo. Acho que seria uma boa ocasião para caminhar na chuva, mas estou resfriado, tenho medo de piorar a saúde, e este é apenas um dos muitos medos que eu tenho. Quando eu era mais jovem não tinha tais medos.Apesar do frio deste inverno não tenho saído em busca de um cobertor de orelhas, como fiz no inverno passado. Há poucos dias eu tinha um cobertor que apareceu na minha vida sem ser convidado, mas ele não aquecia, era frio e cheio de exigências. Fiquei com ele algum tempo para ver como era ter um cobertor que não aquece, terminei pedindo para ele me dar um tempo e ir aquecer outro corpo mais jovem, que não necessita de tanto calor quanto eu. Afinal, para que serve um cobertor que não esquenta?
João Pessoa, 2 de agosto de 2007.