O dia amanheceu ensolarado, o céu com poucas nuvens, da varanda do nono andar observo um homem passando pela rua, ele conduz dois cachorros pelas correntes presas às coleiras. Nas suas explorações os dois animais enormes puxam o homem de um lado da rua para o outro, tal a força demonstrada por eles, apesar do homem ser de complexão forte. Este tipo de animal deveria passear na rua com uma focinheira, para evitar o perigo de morder alguém. Os cachorros mostram a curiosidade própria dos animais jovens e criados em cativeiro, qualquer objeto no chão desperta a sua atenção e eles correm para examinar, movimentos suportados com paciência pelo homem. Em determinados momento os animais param e escavam o calçamento, o homem espera pacientemente que eles realizem as suas explorações do ambiente, algumas vezes os animais demoram nestes movimentos sem serem apressados pelo homem. Outras vezes eles partem apressados e obrigam o homem a andar ligeiro, puxado pela força dos dois cachorros gigantes.
Logo atrás do homem e dos cachorros segue uma criança, deve estar na casa dos três anos de idade, ela corre para acompanhar o homem e os cachorros quando eles se movimentam com rapidez. Ela também pára vez por outra para examinar alguma coisa que desperta a sua atenção e se atrasa um pouco. O homem repreende rispidamente a criança, eu escuto a sua voz irada no nono andar, quebrando o silêncio das primeiras horas da manhã de um sábado tão lindo. A criança se atrasa novamente ao examinar um objeto no chão, gritando colérico o homem aguarda a criança chegar perto dele e lhe dá uma tapa, o impacto da pancada joga a criança no chão. Sob ameaça de novas pancadas a criança se levanta rapidamente e segue lacrimosa o homem, que continua a esbravejar, irado com ela. Eles viram a esquina e saem do meu campo de visão.
Comportamento estranho o daquele homem, a curiosidade dos cachorros era suportada pacientemente por ele, mas a curiosidade da criança era punida de maneira selvagem. Estranha maneira de agir aquela, eu fiquei a imaginar a escala de valores daquele homem, independente da ligação sanguínea existente entre ele e a criança. Eu me indaguei: o que vale mais para este pobre homem, os cachorros ou a criança? Fiquei sensibilizado com a cena e duas lágrimas escorreram pela minha face, comecei a orar pela criança, mas percebi que estava orando pela pessoa errada. Parei e passei a orar por aquele homem, pois ele era realmente a pessoa anecessitar de ajuda.
João Pessoa, 3 de fevereiro de 2007.