Fim de tarde na cidade de João Pessoa, muitas nuvens cobrem a cidade, ameaça de chuva. Os pássaros cantam suas canções de agradecimento pela passagem de mais um dia. Um vento frio sopra sobre a cidade, as ruas estão desertas, ficam solitárias sem a movimentação das pessoas e o alarido das crianças. Hoje o pôr do Sol não poderá ser visto na Praia de Jacaré, mas o Bolero de Ravel será tocado assim mesmo, uma bela despedida do dia que se vai. A roda do tempo gira, alguns insetos iniciam suas sinfonias noturnas, apesar da noite ainda não ter chegado e os pássaros ainda estão cantando.
O manto negro da noite começa a ser estendido sobre a cidade, as luzes artificiais são ligadas nas casas e nas ruas, milhares de pontos brilhantes surgem a pouco e pouco na cidade. Os pássaros silenciam, apenas os insetos cantam e cantarão durante toda a noite. Diante de tanta beleza fico extasiado, algumas lágrimas escorrem pelo rosto, sinto saudade dos parentes e amigos, gostaria de abraçar cada um deles agora, dizer-lhes coisas que nunca tive coragem de falar, abrir o coração sem medo e sem restrição.
O manto negro da noite cobre a cidade, hoje sem a moldura das estrelas para embelezá-la. Faço uma prece de agradecimento a Deus por tudo que a Vida tem me propiciado. Por um breve instante a tristeza toma conta da minha alma ao recordar os parentes e amigos que saíram do alcance dos meus olhos, mas ela é logo tangida para longe, diante de tanta beleza não existe lugar para a tristeza.
Durante tantos anos passei pela existência sem apreciar o sorriso de uma criança, sem ver o brilho dos olhos das pessoas que me cercavam, sem entender as mensagens mudas dos corpos, sem sentir os perfumes das almas, sem apreciar o nascer e o pôr do Sol, sem olhar a Lua e as estrelas, sem ver tantas coisas lindas que a natureza oferece aos seres humanos. Eu não via e agora vejo, mas hoje eu me pergunto: quantas coisas ainda não enxergo?
João Pessoa, 20 de setembro de 2009.
