No Dia do Trabalho a maioria das pessoas não trabalha, fica sem fazer nada, em homenagem ao trabalho. Neste dia algumas pessoas, geralmente aquelas que não trabalham, se reúnem para homenagear os trabalhadores, afinal de contas elas vivem dos frutos do trabalho deles, nada mais justo do que comparecerem às festividades do Dia do Trabalho. As autoridades locais fazem belos discursos, prometem melhoria nas relações trabalhistas e lutar por um salário-mínimo não tão mínimo, bem superior ao atual, modificação na data-base do reajuste, tudo isto ainda este ano. São promessas iguais às que foram feitas nos anos anteriores, mas isto são detalhes sem nenhuma significação, ninguém lembra mesmo quais foram as promessas feitas no passado.
Os políticos fazem declarações sobre seus projetos para melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, de mudanças propostas por eles na relação capital-trabalho e mil outras promessas, afinal prometer não custa nada e os trabalhadores não cobram as promessas que os políticos fazem. Você já se preocupou em verificar se o político que recebeu o seu voto na última eleição cumpriu as promessas feitas em campanha? Eu também não, nós somos assim, e é exatamente por isso que a divisão das riquezas, geradas com os suores dos trabalhadores, é tão desigual. As migalhas ficam com os trabalhadores, isto é, com os que suam as camisas para produzir os bens e serviços. A maior parcela das riquezas geradas pelo suor dos trabalhadores fica nas mãos de uma minoria que não trabalha.
Mas para que nos preocuparmos com estas tolices, no Dia do Trabalho teremos um jogo de futebol muito bom, portões abertos para os trabalhadores, tudo pago com o dinheiro dos impostos cobrados dos próprios trabalhadores. Diga com toda a franqueza e sem preconceitos, o que mais podemos desejar da vida? Não me venha com essa conversa de pão e circo, muito utilizado no império romano, pois nos estamos vivendo no século XXI, não existem pessoas capazes de serem iludidas desta maneira, me recuso a aceitar tal tipo de colocação maldosa.
No final do dia alguma autoridade fará um pronunciamento pela televisão, em cadeia nacional, agradecendo ao trabalhador pela sua inegável contribuição para o desenvolvimento do Brasil. Neste agradecimento ao trabalhador ela gastará quase um minuto e ficará o restante do tempo, pago com o dinheiro público, fazendo propaganda, enaltecendo as “propostas” do governo em benefício das relações trabalhistas. E o pobre do trabalhador continuará com o mesmo salário-mínimo que, segundo estudos de órgãos do próprio governo, não atende às necessidades básicas de qualquer família.
À noite os trabalhadores dormirão felizes com as homenagens recebidas, embora de barrigas vazias, mas as cabeças cheias de promessas e os corações repletos de esperança de que um dia tudo mudará; amém.
João Pessoa, agosto de 2006.