Muitas vezes caminhei apressado pela Vida, de cabeça baixa, concentrado nas atividades que estavam a exigir a minha atenção, não via o que se passava ao meu derredor. Semelhante ao caramujo, que vive fechado dentro da própria concha, eu não via que a solução para as dificuldades enfrentadas por mim naquele momento estava bem diante do meu nariz, eu estava mergulhado dentro dos problemas e conseguia ver apenas o próprio umbigo, não enxergava as soluções possíveis. Uma simples conversa com algumas pessoas teria aberto os olhos da mente, eu teria vislumbrado horizontes jamais imaginados por mim, mas já vistos e explorados por outras pessoas.
Os caramujos rastejam pelo chão carregando as suas conchas que os protegem de alguns predadores, eles vivem as experiências próprias da sua espécie, apesar de limitadas elas são apropriadas para o caramujo e para o equilíbrio da natureza. A visão do caramujo humano está limitada pela concha das suas dificuldades, tal concha não foi criada pela natureza, ela é construída pelo caramujo humano para se proteger de contatos desagradáveis com outras pessoas, mas que o impede de crescer como ser humano. Hoje reconheço que alguns contatos julgados desagradáveis por mim, na realidade, eram lições necessárias para o meu crescimento. Eu sempre me pergunto: quando jogarei fora a concha que construí para me esconder dos outros seres humanos? Quando deixarei de ser um caramujo humano?
Uma coisa muito boa para o caramujo humano é conviver com seres humanos que não são caramujos. A convivência com seres humanos, que se comportam como seres humanos, permite aos caramujos humanos verem as diferenças e terem a possibilidade de pensar em mudar seus modos de pensar e agir. Esta convivência aponta para o caramujo humano qual deveria ser o seu comportamento. Entre o ato de se identificar como caramujo humano e se tornar um ser humano existe um longo caminho a percorrer, eu que o diga, mas as recompensas recebidas nesta longa caminhada valem o esforço desprendido. Tenho esperança de um dia deixar de ser caramujo e me transformar em um ser humano.
João Pessoa, 20 de maio de 2008.