Procurando alguma coisa?

Crônicas

Alheamento

Aguardo o sinal fechar para atravessar a rua, muitas pessoas fazem o mesmo. Vejo uma mulher passar ao meu lado, absorta em seus pensamentos ela vai atravessar a rua sem olhar o sinal, alguém segura o seu braço e a puxa, evita que ela seja atropelada por um automóvel que passa veloz. Ao perceber o que poderia ter ocorrido, a mulher parece despertar de um torpor, as suas mãos estão tremulas em decorrência do susto, ela agradece emocionada a ajuda recebida. O ser humano que evitou o acidente pergunta a ela se necessita de auxílio para chegar ao seu destino. A mulher diz não ser necessário e, agradecendo mais uma vez, segue sozinha. Existem momentos na vida de uma pessoa que um fato causa tanto impacto que ela fica aturdida e caminha alheia a tudo, não vê o que se passa ao seu derredor.

Depois de presenciar este fato, fiquei a imaginar quantas vezes eu caminhei na Vida sem prestar atenção ao que acontecia ao meu derredor. Focado no meu umbigo, caminhei sem ver as necessidades da minha família e das pessoas que me cercavam. Lembrei-me de que já presenciei um fato semelhante a este e o registrei em um conto ou uma crônica. Sento em um banco da praia e pergunto a mim mesmo: O que a Vida deseja me ensinar? O que significa a repetição deste fato?

De repente, no painel da minha memória desfilam as lembranças de pessoas conhecidas que me ensinaram muitas coisas durante o período que convivemos. Quanta sabedoria nos seus ensinamentos, somente agora eu vejo como eram úteis os seus conselhos, desprezados por mim por julga-los como coisas sem serventia, devido ao fato das minhas limitações não me permitirem ver a sabedoria daqueles conselhos.

Com o passar dos anos ganhei experiência, aprendi a não cometer alguns erros, mas outros eu continuo a praticar. Faço exatamente como aquela pessoa que quase foi atropelada perto de mim, eu fecho os olhos da alma e atravesso a Avenida Vida, correndo o risco de ser atropelado por algum erro em disparada.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, 30 de Junho de 2012.

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