− O relacionamento de um casal muda com o passar do tempo, hoje não consigo ter um diálogo com meu marido sobre qualquer assunto, coloca Paula.
− Você não conversa com seu marido, pergunta Marina.
− Apenas o necessário para resolver os problemas dos nossos filhos e da nossa casa. Muitas amigas minhas têm a mesma dificuldade.
− Faz muito tempo que você e seu marido perderam a vontade de conversar um com o outro?
− Um longo tempo, já nem me lembro quando abandonamos o diálogo.
− Você está mantendo relações sexuais com seu marido?
− Até dois anos atrás mantínhamos relação sexual, coisa de uma ou duas vezes por mês.
− E como você se sentia na relação sexual?
− Para mim, nos últimos anos, era um ato mecânico em que não sentia o menor prazer, confessa Paula.
− E como você percebia o seu marido?
− Acho que ele também realizava o ato mecanicamente, sem amor, cumpria uma obrigação. Apesar de atingir o orgasmo não sei se ele sentia prazer no nosso relacionamento, deixamos de conversar sobre assuntos íntimos faz anos.
− Alguns casais têm este tipo de comportamento depois de alguns anos de relacionamento, coloca Marina. Cada um tem relação sexual como quem cumpre uma obrigação contratual, apenas para evitar que o cônjuge busque o sexo fora de casa, sem perceber que empurram o outro para uma relação extraconjugal com este tipo de atitude.
− É verdade, confirma Paula.
− Posso lhe fazer uma pergunta indiscreta? Responda apenas se tiver vontade, caso contrário nós continuamos nossa conversa sem problema.
− Pergunte o que desejar, eu lhe responderei com sinceridade.
− Alguma vez você sentiu vontade de ir para cama com outro homem?
− Nos primeiros anos em que a relação começou a deteriorar-se não desejei me relacionar com outra pessoa, mas com o passar do tempo comecei a sentir atração sexual por alguns homens que conheço.
− Por que você não pede o divórcio?
− Tenho medo de que isto prejudique os filhos.
− A situação do seu relacionamento conjugal já deve ter sido percebida por eles, acho estranho que ainda não tenham conversado com você. Este jogo hipócrita é mais prejudicial para eles do que a separação. Nesta relação deve existir alguma coisa que você dá valor e lhe leva a suportar este tipo de comportamento do seu marido.
− Passei muitas privações na infância e na juventude, sou apegada ao padrão de vida que o meu marido me proporciona. Com a separação eu não passaria necessidade, mas não levaria o mesmo padrão de vida atual.
− Agora entendi, mas é um preço muito alto que você paga por este padrão de vida. Você prefere ser rica, embora isto lhe custe muito caro, o preço é a oportunidade de encontrar a felicidade em outro relacionamento. Sendo esta a sua decisão, acho que você deveria tentar conversar com seu marido e modificar o relacionamento de vocês.
− Tentei inúmeras vezes, mas quando converso este assunto ele me ridiculariza e me deixa falando sozinha, não tem o menor respeito comigo, me trata com deselegância, o que faz com que me sinta mal quando tento dialogar. Por esta razão, desisti de conversar com ele a este respeito.
− Algumas amigas nossas vivem situações semelhantes, depois de algum tempo passaram a ter relacionamentos fora do casamento. Vou ser indiscreta mais uma vez, peço que me perdoe, mas não consigo deixar de perguntar. Você tem uma relação extraconjugal?
− Eu fui fiel ao meu marido durante muito tempo, suportei durante anos as grosserias dele sem o trair. Comecei a almoçar com um amigo do trabalho, certa noite de sexta-feira fomos ao aniversário de um colega de trabalho, não sei explicar como aconteceu, mas tivemos uma relação sexual. Faz dois anos que mantemos um relacionamento que é prazeroso para os dois.
− Por que razão você não assume o relacionamento com ele?
− Ele é casado, tem filhos e não é feliz no relacionamento. Acho que foram as nossas dificuldades que nos uniram, coloca Paula.
− Eu penso que os dois estão apenas satisfazendo suas necessidades sexuais, não existe nada além da relação sexual. Caso este relacionamento preenchesse os dois na sua totalidade, vocês já teriam assumido a relação e estariam vivendo juntos.
Após escutar estas palavras Paula silencia durante algum tempo. Marina respeitou a reflexão da sua amiga. As duas ainda conversaram durante algum tempo. Depois da profícua troca de ideias com Marina, Paula regressa para o local onde mora, que há muitos anos atrás era o seu lar.
João Pessoa, 23 de janeiro de 2010.