Certa vez, há muitos e muitos anos atrás, um jovem vinha caminhando por uma estrada deserta quando foi atacado por três ladrões que o subjugaram com facilidade. O jovem era muito pobre e nada de valor possuía para ser levado pelos ladrões. A roupa que vestia era tão velha que nenhum dos ladrões quis ficar com ela. Além da roupa do corpo, a única coisa que o jovem carrega consigo é um livro, olhado com desprezo pelos ladrões. Frustrado por não terem conseguido nada, um dos ladrões deseja matar o jovem, enquanto outro deseja deixá-lo seguir em paz o seu caminho. Os dois ladrões iniciam uma discussão. A troca de insultos está tão exacerbada que o chefe do bando intervém para evitar que os dois ladrões saquem suas armas e briguem. Demonstrando uma calma que surpreende os ladrões, o jovem pede licença e diz com firmeza:
– Este livro que vocês nem sequer examinaram contém um roteiro seguro para encontrarmos riquezas incalculáveis, aquela riqueza que ninguém pode tirar de nós.
Ao escutar aquilo o chefe do bando pega o livro e o examina atenciosamente, mas não encontra nenhum mapa. Como o chefe não sabia ler abandonou o livro dizendo não haver ali mapa algum. O ladrão que desejava matar o jovem se adianta e examina o livro, após folhear as páginas saca sua faca e pergunta para o jovem:
– Você está querendo gozar com nossa cara?
– Longe de mim tal idéia! O senhor deve ler o livro para descobrir as riquezas contidas nele.
– Bobagem, todos sabem que os mapas mostram o local onde os tesouros foram escondidos, fala o ladrão mau.
– Escuta aqui seu moço, diz o chefe dos ladrões, caso esteja querendo caçoar da gente eu vou ser o primeiro a enfiar esta faca em você.
– Para descobrir os tesouros que este livro encerra é necessária uma leitura diária de suas lições, diz o jovem.
– Nós não sabemos ler, diz o ladrão bom. Quanto tempo você gastaria para ler este livro para nós?
– Muito, muito tempo… Este livro deve ter cada um dos seus ensinamentos discutidos entre vocês, é um aprendizado demorado. E o mais importante: cada lição aprendida deve ser praticada nas nossas atividades diárias.
– Nós não dispomos de muito tempo, diz o bom ladrão. Ficar parado num local é perigoso, podemos ser localizados e presos.
– Caso vocês não se incomodarem eu poderei acompanhar os três e nos momentos em que nós pararmos eu lerei algum trecho do livro e discutiremos as idéias apresentadas. Só não os acompanharei nos assaltos, pois isto é uma das coisas que o livro ensina a não fazer.
– Já não estou gostando deste livro, diz o ladrão mau.
– Meu jovem, se não roubarmos morreremos de fome.
– Deus é nosso Pai e providenciará o pão nosso de cada dia, responde o jovem.
Durante mais de um ano o jovem seguiu os ladrões. Em cada lugar que eles chegavam o jovem conseguia um trabalho e ganhava o pão de cada dia com o suor do seu rosto, enquanto isso os ladrões praticavam seus assaltos. Durante os deslocamentos de uma localidade para outra o jovem ia lendo e explicando para os ladrões o Novo Testamento. Nos primeiros dias ele teve a sua integridade física ameaçada pelos ladrões, eles achavam que o jovem estava inventando o que dizia por não concordar com o que eles faziam. Com o passar do tempo os ladrões foram modificando seus comportamentos, o jovem lhes ensinou a executar algumas tarefas e ganharem o seu sustento com a execução de algum trabalho. O ladrão bom abandonou o grupo após nove meses de convívio com o jovem, escutando diariamente as lições preciosas contidas no Evangelho. Os outros dois permaneceram juntos e ainda praticaram alguns assaltos, intercalados com algum trabalho honesto. Após mais de um ano escutando aquelas lições e convivendo com aquele jovem simples e honesto, o chefe resolveu voltar para sua aldeia e recomeçar uma vida de trabalho. O ladrão mau também se despediu do jovem e disse que ia pensar nas lições aprendidas, mas não sabia ainda o que iria fazer. O jovem fez uma oração agradecendo a oportunidade de ter aprendido muitas coisas no convívio diário com aquelas pessoas e seguiu seu caminho. O jovem sabe que a semente divina plantada na alma de cada um germinará e dará frutos abundantes.
João Pessoa, setembro de 2007.