Em um município do Brasil mora uma anciã sábia, muito admirada pelo povo, conhecida por sua acuidade, por seus trabalhos no campo da educação, e por evitar as multidões. Um dia, com o objetivo de agradar o povo, o prefeito convida a anciã para falar na praça pública, durante as festividades de aniversário de fundação do município, que ocorrerá dentro de poucos dias. Para surpresa do prefeito e de todos os munícipes que ouvem o convite, ela aceita falar para o povo, o que provoca uma inquietação no prefeito e nas demais autoridades locais, pois o convite foi feito apenas para mostrar ao povo que eles também prezam a sábia, o que é mentira, eles a detestam pelo fato dela apontar os erros que cometem, e de combater a corrupção em que se locupletam. Caso o prefeito desconfiasse que ela aceitaria o convite, jamais a convidaria.
No dia do aniversário de fundação do município uma multidão está presente na praça, com o objetivo de escutar a sábia, pois ela pouco fala, mas sempre ensina algo quando conversa com alguém. Algumas autoridades fazem discursos longos e vazios, o povo fica impaciente, e começa a gritar o nome da sábia. Sem ter outra alternativa, o prefeito concede-lhe a palavra.
− Fui informada pelo cerimonial da prefeitura, coloca a sábia, que devo começar o discurso fazendo uma saudação às autoridades aqui presentes, começando pela maior autoridade. Assim o farei.
Depois de um silêncio que cria uma grande expectativa em todos, e deixa as autoridades apreensivas, a sábia inicia seu discurso.
− Saúdo o povo deste município, única autoridade aqui presente; saúdo também os demais representantes deste povo. Direi apenas poucas palavras, serei breve. Digo aos habitantes deste município: entendam que todas as pessoas presentes neste palanque, e que dão a si os títulos de autoridades, são seus servidores, estão abaixo de vocês, portanto, exijam que trabalhem em benefício da população do nosso município. Aos representantes deste povo, eleitos para gerir as riquezas do município, digo: vocês foram eleitos para servir ao município, o povo é o seu patrão, cumpram os deveres que lhes foram outorgados pelo povo, com o objetivo de trazer a ordem e a progresso para todos.
Sem nada mais dizer, e silenciosamente, a sábia se retira. Passados alguns instantes de perplexidade, a multidão explode em uma grande ovação. O povo também se retira da praça, fica apenas o cordão dos puxa-sacos a escutar os discursos vazios daqueles que ainda não entenderam que são servidores do povo…
Marcos Antônio da Cunha Fernandes
João Pessoa, 26 de março de 2018.