Neusa e Xavier são amigos desde o tempo de criança. Quando eles atingiram a idade adulta foram morar em cidades diferentes, seguiram caminhos que não se cruzaram. Após alguns anos, voltaram a morar na mesma cidade em que nasceram, mas eles não retomam os antigos encontros com seu grupo de amigos, apenas se encontram casualmente nas suas atividades cotidianas, ocasião em que conversam rapidamente. Nesta bela manhã de inverno os dois se encontram na cidade. Após os cumprimentos habituais Neusa confessa para Xavier:
− Gosto de conversar com você, mas nas últimas vezes fico irritada com as suas ideias acerca do relacionamento conjugal.
− Devemos dar a qualquer pessoa o direito de pensar de maneira diferente da nossa e respeitar as suas ideias, responde Xavier.
− Considero algumas de suas ideias totalmente equivocadas. Não considero uma pessoa errada por não tomar a iniciativa para resolver um problema que acontece no relacionamento conjugal.
− Minha amiga, você me conhece há muitos anos, desde o tempo de estudante. Nos dias atuais nós conversamos poucas vezes e isto ocorre em ocasiões como esta, quando nos encontramos por acaso. Nestes momentos você me faz sempre as mesmas perguntas, apesar de já saber qual será a resposta. Tenho a impressão de que você concorda com elas, mas não quer admitir este fato em decorrência de causas que desconheço.
− Que absurdo! Somente na sua cabeça poderia surgir uma ideia tão disparatada quanto esta.
− Quando nos encontramos casualmente na rua é você quem me para e faz perguntas. Por que razão faz isso? Por que não me cumprimenta e segue seu caminho, sem parar para conversar?
− Não sei, responde Neusa.
− Você faz sempre as mesmas perguntas acerca de relacionamentos entre casais e eu dou sempre as mesmas respostas, você se irrita, se despede e parte apressadamente, chateada com a resposta que você já conhecia.
− Você está me deixando embaraçada com estas colocações.
− Não é esta a minha intenção, desejo apenas que você pense no que acabo de lhe dizer e procure dentro de si a resposta para o seu comportamento, coloca Xavier.
− Pelas minhas perguntas você já percebeu que estou em dificuldade no relacionamento com meu marido, apesar de ter sido discreto e não ter perguntado nada. Confesso que o meu casamento não está bem e isto tem me afetado muito.
− Você conversou com ele quando a relação entre os dois começou a esfriar?
− Não… Eu pensei que era algo passageiro e que tudo voltaria a ser como antes, mas o nosso relacionamento foi piorando a cada dia e hoje somos dois estranhos que vivem debaixo do mesmo teto.
− Ainda deve existir algum sentimento de amor entre os dois, caso contrário vocês já estariam morando em locais diferentes. É necessário sentar e conversar.
− Não sei como fazer isso, não conseguimos dizer mais de três palavras um para o outro. De que modo eu devo agir para ter uma conversa com meu marido?
− Existe algum amigo ou amiga comum que possa funcionar como um agente facilitador desta conversa entre você e seu marido?
− Caso eu recorra a uma terceira pessoa para facilitar a conversa seria um desastre, iria piorar a situação, não existiria possibilidade de diálogo.
− Então só lhe resta buscar uma ajuda profissional.
− Ele não aceitará!
− Aja de maneira sutil. Você comunica para ele que está confusa e necessita fazer um tratamento psicológico. Faça sozinha o tratamento durante algum tempo, ocasião em que mergulhará dentro de si, conhecerá melhor a si mesma. Depois de algum tempo o profissional irá solicitar a presença do seu marido, então você pedirá a ele para lhe ajudar no seu tratamento, para isso ele terá de comparecer com você a uma ou duas sessões. Caso ele aceite você terá a oportunidade de conversar com ele.
− E se ele não aceitar?
− Você já terá conhecido melhor a si mesma e saberá encontrar dentro de si a resposta sobre o caminho que deverá seguir. Foi muito bom conversar com você. Até o nosso próximo encontro casual, quando espero receber boas notícias acerca do seu casamento.
− Espere, vamos conversar mais um pouco, coloca Neusa.
− Tenho um compromisso profissional dentro de poucos minutos. Adeus.
− Obrigado pela paciência que teve comigo. Você me ajudou muito. Obrigada.
Marcos Antônio da Cunha Fernandes www.marcosfernandes.org João Pessoa, Julho de 2010 (revisada em Fevereiro de 2013).