Pobre cão sarnento e abandonado,
causas asco nos que te vêm.
Olhas com inveja
os cachorrinhos das madames,
são bem cuidados e alimentados.
Não te deixam sequer
comer as sobras nas latas de lixo
que aplacariam a dor da tua fome,
uma entre tantas fomes que tu tens.
Os que passam nas ruas
perseguem-te com xingamentos e pedradas,
és escorraçado de todos os lugares.
Procuras um templo religioso
na esperança de que Deus
lenifique os teus sofrimentos.
És enxotado pelos que ali se encontram,
eles não admitem a presença de cães.
Perguntas a ti mesmo
onde encontrarás Aquele que socorria
os leprosos e os endemoninhados,
os bêbados e as prostitutas?
A lição de Lázaro te vem à memória,
lembras que somente os cães lambiam suas feridas.
Será que somente cães são solidários?
Triste e desesperançado
procuras um local deserto
onde possas te proteger
da crueldade dos seres humanos
e morrer em paz.
João Pessoa, 12 de novembro de 2003.