Mais uma manhã de chuva e frio acontece neste Domingo. A cidade dorme enquanto a chuva continua a cair, insistente, mesmo depois de ter regado as plantas durante a noite toda. Ela espantou para longe o calor dos últimos dias. Os pássaros cantam menos do que nos dias ensolarados, apenas os insetos fazem sua saudação costumeira ao Sol de um novo dia, escondido por trás das nuvens, anunciando a sua presença através da claridade. Ligo o som e sintonizo em um canal de música clássica, embalado pela música escrevo uma poesia cujo título é Coisas do Coração.
O apartamento hoje está vazio, a cidade parece vazia, apena escuto os pássaros e os insetos, para eles o Domingo é um dia igual aos outros dias e é saudado do mesmo modo, no mesmo horário. Procuro escutar meu coração, mas ele ainda dorme. Quem acabou de escrever a poesia Coisas do Coração? Teria o cérebro, depois de muito conviver com o coração, suavizado sua linguagem e fingido ser ele?
Olho pela janela, a chuva cai forte, não permite ver o mar. A chuva que não permite ver o mar é a mesma que mata a sede das plantas e leva-me à introspecção. Ao mergulhar dentro de mim vejo o que precisa ser regado pelo amor para florescer. Tanto no jardim quanto no pomar da minha alma existe muita coisa para fazer.
A chuva pára de cair, o céu está encoberto por nuvens cinzentas, o mar também está cinzento em decorrência das águas barrentas dos rios que cercam Jampa. Lá longe, bem longe, a cor cinza das nuvens parece encontrar a cor cinza do mar, uma ilusão de ótica. Fico a imaginar quantas ilusões eu tenho quando observo a Vida. Como identificar e corrigir estas ilusões?
A chuva volta a cair com intensidade, esconde novamente o mar. Depois de algum tempo a chuva pára, vejo novamente o mar. O vai e vem das emoções faz a mesma coisa comigo, cobre e descobre o mundo que vejo. Uma pergunta surge, sobranceira: quantas coisas a chuva da emoção me impede de ver?
Marcos Antônio da Cunha Fernandes www.marcosfernandes.org João Pessoa, 28 de Abril de 2013.